A Lei do Eterno Retorno foi mencionada pela primeira vez por Nietzsche, em seu livro Assim Falava Zaratustra. O livro conta as aventuras de um velho sábio chamado Zaratustra, que vai percorrendo lugares, ensinando lições através de seus aforismos. No meio de muita linguagem poética, vocabulário rebuscado e talvez uma leitura um tanto cansativa para leitores menos acostumados (ou que não gostam) ao estilo de Nietzsche, encontramos lições riquíssimas, que servem para a nossa vida pessoal, cotidiana e até para nossas questões existenciais.
A principal lição que eu encontrei nesse livro foi a Lei do Eterno Retorno. Ela é simples, mas suas conseqüências são muito complexas e um livro inteiro poderia ser escrito sobre o tema. Confira o que Zaratustra diz no livro:
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirassem tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este lugar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse.
Imagine como seria se assim que sua vida acabasse de alguma forma tudo acontecesse de novo... de novo...e de novo. Não sejamos precipitados a ponto de imaginarmos que essa seria uma experiência de horror e sofrimento. Pensando um pouco mais é fácil descobrirmos que uma vida bem aproveitada seria uma vida que valeria a pena ser vivida novamente.
Seguindo esse princípio nós podemos passar a nos perguntar se cada atitude que tomamos é algo que gostaríamos que fosse repetido infinitas vezes. Ou melhor, deveríamos refletir sobre isso antes de qualquer ação. Sem dúvida essa é uma lei filosófica poderosa que se levada a sério pode nos ajudar tanto quanto um princípio moral religioso. Nietzsche não foi o único a bolar regras morais para reger a nossa vida. Na Antiguidade, filósofos como Sócrates, Platão e Epicuro também refletiam sobre essas questões. Isso prova que a crença de que a religião foi o que trouxe a moralidade e a paz ao mundo, é uma grande falácia. As religiões ocidentais vêem as punições por nossos atos como obras de um ser divino que fica constantemente nos vigiando e avaliando. As religiões orientais se aproximam mais da lógica explorada por Nietzsche no sentido de que para ele nós somos os responsáveis pelas nossas próprias amarguras. Temos o poder de controlarmos nossa vida a ponto de vivermos uma vida que valha a pena ser repetida infinitas vezes, ou seja, somente nós somos responsáveis pelas nossas atitudes e pelas conseqüências delas. Em todo o contexto religioso oriental percebemos isso, como por exemplo, no budismo, na lei do Karma, em que tudo que colhemos é conseqüência de sementes plantadas anteriormente (Lei da causa e efeito).
Portanto, acho que deveríamos viver focados em ajudar o próximo para construirmos um mundo melhor (seja através de uma profissão, seja através de atitudes para com pessoas próximas no cotidiano), estudar para compreender o mundo em que vivemos e as pessoas com quem convivemos, lutar pelo nosso aperfeiçoamento pessoal. Ainda que isso seja muito fácil na teoria, mas dificílimo na prática, devemos tentar. E finalmente, encerro com as palavras de Schopenhauer:
Nossa maior meta deve ser a boa saúde e a riqueza intelectual, que levam a uma fonte inesgotável de idéias, à independência e à vida moral.