sábado, 9 de outubro de 2010

O Que Diabos é Psicologia? - Psicologia Experimental (PARTE 1)

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Depois de alguns períodos no curso de psicologia eu percebi que antes de entrar para o curso eu não fazia muita idéia de o que era psicologia (acredito que eu tenha me surpreendido menos do que a maioria das pessoas). Tenho absoluta certeza de que você, que não tem qualquer contato com essa área, também se encontra na mesma situação. Esse post é, sobretudo, um manifesto pessoal. Manifesto de alguém que quer que as pessoas parem de pensar que psicologia se constitui só como prática da terapia (que muitas vezes é pintada como a cena de um homem sentado no divã, falando sem parar e um analista sentado, calado); que a psicologia serve para ajudar as pessoas a arranjar namorado ou para aprender a conversar; que na psicologia existe a pseudocientífica prática da regressão; que psicólogo é sinônimo da tediosa tarefa de aplicar testes. E pior do que isso é quando relacionam auto-ajuda com psicologia. Pensando nessas noções populares, resolvi escrever uma série de posts contando um pouco sobre o que, afinal, é a psicologia.


Certamente, toda ciência, ou campo do saber, possui os primórdios históricos e filosóficos que explicam seu aparecimento oficialmente numa determinada data, de acordo com determindo contexto. Mas, aqui, me deterei em iniciar esse assunto no século XIX, em 1861, ano em que a psicologia como ciência, surgiu; sem me deter muito em seus precedentes.

Wilhelm Wundt
O fisiologista alemão Wilhelm Wundt, estava intrigado com um fenômeno relacionado às medições que os astrônomos alemães faziam e que, caso dois astrônomos cronometrassem um mesmo fenômeno, os dois encontravam resultados ligeiramente diferentes (margem de erro de meio segundo). Ora, se os dois estão acompanhando o mesmo fenômeno, por que o erro? Por exemplo, se o corpo observado fosse uma estrela tal que fosse passar no céu em tal momento, e se quisesse medir o tempo levado entre seu surgimento e seu desaparecimento. A observação era feita através de um telescópio, de forma que, se o observador focasse sua atenção primeiramente no telescópio, ou primeiro no cronômetro, suas medições difeririam ligeiramente. Isso fez Wundt concluir que não era possível concentrar nossa atenção em mais de uma coisa ao mesmo tempo, o que podemos fazer é prestar atenção alternadamente em uma série de coisas, mas simultaneamente, nunca. 

A partir daí, o fisiologista alemão começou estudos relativos à percepção, sensação, posteriormente se interessando por ago que denominou psicologia cultural (uma espécie de psicologia social). Ao estudar a sensação e a percepção, Wundt tinha um objetivo muito peculiar em mente. Ele queria estudar a experiência consciente: quais os elementos que constituem essa experiência? Como eles se agrupam? Como os percebemos? Como método, ele empregava a instrospecção, em que voluntários observavam uma determinada coisa, como um objeto, e descreviam suas sensações à respeito daquilo. Por exemplo, ao observar o monitor de um computador, no método de Wundt, provavelmente seriam obtidas descrições do tipo: agora vejo um grande retângulo brilhante na minha frente, cujas laterais possuem hastes pretas também retangulares, porém mais finas, formando a borda do monitor. No retângulo horinzontal de baixo existem botões quadrados...e assim por diante. Repare que é uma descrição que decompõe o objeto observado. Segundo Wundt, eram essa partes que nossa mente conectava de alguma forma e assim produzia nossa percepção.

Wundt em seu laboratório
Podemos perceber que seu interesse e seu método eram totalmente articulados com as ciências naturais, afinal, era um fisiologista. Em 1867, começou a ministrar um curso de psicologia fisiológica na Universidade de Heidelberg, o primeiro curso formal dessa área no mundo. Depois de certo tempo, com a implementação do laboratório de pesquisas e a criação de uma revista especializada sobre suas experiências, Wundt voltou sua atenção para a filosofia. De 1880 a 1891, começou a escrever sobre ética, lógica e filosofia. Seguindo esse fluxo, seus estudos começaram logo a se concentrar na cultura. Em seus livros, analisou o desenvolvimento mental humano manifestado na linguagem, arte, mitologia, moral, lei e costumes sociais. Sua obra sobre esse assunto causou mais impacto pela inovação do que pelo conteúdo em si, já que foi o marco divisório do surgimento da psicologia social e a experimental.

Essa é uma introdução bem básica, somente com os pontos principais, do marco do surgimento da psicologia moderna. Hoje, quando essa disciplina surge em nossas mentes como tema, imaginamos logo consultas longas, com o paciente falando e o analista calado, a aplicação de testes de personalidade e etc; mas, surpreendentemente, em sua gênese, nem mesmo uma disciplina acadêmica era. Nessa época, como psicologia experimental (nome utilizado por Wundt), essa área era uma espécie de ramificação dos estudos da fisiologia humana, tendo pesquisas que não tinham ainda nenhum fundo prático. Hoje, a psicologia alemã de Wundt não é muito usada, mas seus estudos foram essenciais para o surgimento de tudo que hoje chamamos de psicologia.


4 comentários:

Carol Juvenil disse...

Hohoho, nosso início já tinha uma relação com a Ciência. Não sei o que estão tentando fazer conosco, ó céus.

Bom post, nunca entendo essa confusão na História da Psicologia.

Felipe disse...

Valeu! rs

Mas po, ficou mega resumido né....Daria pra ter explicado bem mais coisas.

Pois é...dentro da psicologia da UFRJ tem quase uma seita destinada a jogar a ciência para o limbo da maldade. É como se a ciência não fosse um método nem mais nem menos eficiente que os outros....logo, podemos escolher os métodos que quisermos para entender o mundo. Bom, não concordo com isso porque o método científico pode não ser algo divino, isento de erros e tal...mas po, é graças a essa técnica que a gente conseguiu combater doenças, curar pessoas, criar a tecnologia atual...Então, acho que a psicologia deve ter sua abordagem científica sim...precisamos de um pouco de objeividade....ficar nos fiando só nas elubrações da psicanálise não adianta nada. Enfim...a situação é auto-explicativa. rs

Carol Juvenil disse...

Pra mim o maior problema não é mostrar esses outros modos de ver o mundo, mas sim o que você disse: tratar os modos científicos como obra do demônio (não que você tenha dito isto, mas ficou divertido de escrever). Eu mesma quase sofri lavagem cerebral nos meus primeiros meses de UFRJ porque a nossa Psicologia não mostra ao aluno o leque de possibilidades que há na área. Com quase 2 anos sentindo que eu não queria nada daquilo que estavam me passando como a única coisa certa, uns poucos professores me mostraram que talvez o que eu desejava fosse aquilo que eu considerava ruim (ficou confuso, mas ok). E se outros não aguentaram esse caminho que fiz e abandonaram a Psicologia sem saber o que mais ela apresenta? Gente, isso é quase um atentado à educação.

Meu Deus, eu falo disso todo dia.

Felipe disse...

pois é! Acho que nem na PUC, que é uma instituição católica, a gente vê tanta doutrinação assim!

Um dos problemas da área de humanas aqui no Brasil é que eles são muito mais ideológicos e políticos do que cientistas. Eles tem o costume de ignorar qualquer conhecimento que possa, para eles, ser usado como arma ideológica; como já aconteceu no passado quando estávamos engatinhando em diversas áreas acadêmicas. Isso é tão absurdo quanto suprimir os estudos sobre a Segunda Guerra com medo de que as asneiras do Nazismo caiam na boca do povo e os nazistas ressurjam! isso é absurdo!

Outra coisa que me irrita é a falta de conhecimento. Nego fala como se a psiquiatria atual fosse igual à psiquiatria bebê de 200 anos atrás po. E ainda colocam a neurociência no meio. isso é ridículo.

Já viu aquelas aulas em que pra vc não ser massacrado vc tem que repetir no mínimo duas vezes a cada frase "isso foi construído historicamente". Ah vai pa p......! rs É lógico que muitas coisa foi construída historicamente, mas não podemos transformar isso num mântra!!! Se a gente não pontua as nossas idéias com essas expressões, nossos argumentos são simplesmente ignorados e difamados! Enfim....tem tanta coisa que eu abomino lá que poderia ficar até amanhã aqui discursando! rs

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