sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A política, segundo os populares


Pegando o ônibus pela manhã, indo para o trabalho, ouvi sem querer o papo de duas senhoras de meia idade. Estavam falando sobre política, sobre os dois candidatos à presidência da República. A conversa estava bem normal (bem senso comum), até que uma delas disse: “Só acho uma coisa: religião e política não se discutem.” A outra concordo vigorosamente, como se tivesse ouvido um aforismo lógico incontestável do próprio Sócrates.

sábado, 16 de agosto de 2014

A comédia relevante de O Guia do Mochileiro das Galáxias


O Guia do Mochileiro das Galáxias é um livro incrível. Utiliza o humor de uma forma inteligente, como ferramenta para tocar em problemas profundos que a humanidade enfrenta desde os primórdios. "O que estou fazendo aqui?", "A vida surgiu por acaso ou foi criada?", "Estamos sozinhos no Universo?", "A vida tem significado?". A lista de questionamentos poderia ser infinita, contendo também respostas que ajudam a criar ainda mais perguntas - como a Hidra, em que cada cabeça cortada dá lugar a mais duas.

Em geral, comédias me decepcionam. Não que eu não tenha senso de humor (ok, alguns dirão que não tenho; outros, que ele é estranho e de lua), mas a maioria delas parece subestimar o espectador com piadas imbecis, superficiais. É como se houvesse um consenso tácito entre comediantes e público, em que a comédia serviria como fuga do complexo, do profundo, do essencial.

Recentemente, ouvi uma pessoa dizer que livros sérios perturbam a mente e podem nos deprimir. Que preferia sempre o que fazia rir. Imagino esse indivíduo pirando ao ler Douglas Adams, que joga com essas duas esferas muito bem.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O problema não é a dor do Neymar nem a das vítimas do viaduto em MG


Logo nos primeiros dias após o jogo da seleção brasileira contra a Colômbia, começaram a pipocar pelas redes sociais diversas manifestações sobre a lesão sofrida por Neymar, causada pelo golpe do jogador colombiano. Imagens e status no facebook mostravam piadas, apoio, exaltação e, ainda, comparações. Muitos internautas pareciam estar revoltados com a comoção pública que o incidente teve, enquanto a ponte que caiu em Belo Horizonte (MG), matando algumas pessoas, tinha recebido pouca cobertura, tanto da mídia quanto dos usuários da rede. Fui uma dessas pessoas, embora não tenha me pronunciado de forma efusiva. Mas, diferente de muitos, não creio que Neymar tenha culpa no cartório. Não existe um culpado pontual para o fato de o brasileiro colocar todas as suas forças no futebol e ignorar coisas vital e intelectualmente mais importantes. O verdadeiro culpado da  negligência brasileira com o que realmente importa, é você, somos nós.

sábado, 29 de março de 2014

Elucubrações sobre as técnicas interpretativas de psicanalistas, xamãs e oráculos - De Matrix à Delfos


Há momentos na vida em que devemos recusar um desafio, geralmente quando o resultado é demasiadamente óbvio por já termos experienciado coisas parecidas antes e visto que não foi proveitoso para nós. Isso vale para lugares e mesmo assuntos. Em relação ao segundo, posso dizer que comecei a evitar leituras psicanalíticas assim que comecei a ver o tema na faculdade (sim, eu estudo psicologia). Me pareceu por demais não apenas não-científico (o que não é um problema em si), mas principalmente pseudocientífico (apesar de Freud ter tido intenções bem positivistas e mecanicistas ao começar a desenvolver a área), o que necessariamente é algo que já de primeira deveria desqualificar determinada empreitada.

O mesmo serviria para os demais psicanalistas que romperam com a escola freudiana, como Jung. Em relação a este, sobre o qual nunca tinha lido nada nem na faculdade nem fora dela, minhas expectativas só pioraram, graças à disciplina de Metodologia Científica. Era ministrada por uma professora simpática, mas que insistia em não dar metodologia científica – ou melhor, teimava em dar o que ela entendia como tal.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Considerações aversivas sobre a escravidão humana e o especismo como revanchismo hipócrita


Se você é corajoso o suficiente para ver Terráqueos, veja. Eu não consegui.

Esse é do tipo de conteúdo que dá material para pensarmos sem parar durante uma semana inteira. Muitas questões surgiram para mim nos quase 20 minutos que tive estômago de assistir, vejamos alguns.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O olhar da mente humanista e analítico de Sacks, sem perder a compostura

O Olhar da Mente é mais do mesmo, posso dizer seguramente. Esse é o prelúdio geralmente de mal agouro para uma crítica literária, mas no caso de Sacks, não mesmo. Ser mais do mesmo significa que seu último livro não perdeu as características que tornam o neurologista e suas obras tão magníficas.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A jornada heróica de Bilbo


Ler O Hobbit foi uma das mais inesperadas aventuras das quais já participei. Digo dessa forma pois é exatamente assim que o leitor se sente, tendo Bilbo como o personagem que vai conhecendo um mundo enorme e cheio de desafios, de coisas desconhecidas e perigosas - tão leigo quanto a Terra Média quanto nós. 

Quem está familiarizado com A Jornada do Herói, de Joseph Campbell, sabe muito bem que Bilbo Bolseiro é um herói, aquele que vivia uma vida pacata, comum e recebeu um chamado à aventura. Em algumas histórias esse chamado aparece como sendo um sonho estranho, uma visita inesperada como a de Gandalf ou mesmo um fruto de reflexão pessoal mais apurada.