sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dinossauros e Homens??


Recentemente li um artigo num blog criacionista, A Lógica do Sabino, que falava sobre a suposta descoberta de que na verdade os dinossauros não tinham sido extintos há 65 milhões de anos por causa da queda de um gigantesco meteoro aqui na Terra, mas sim 300 mil anos antes da extinção dos dinossauros. Agora me ponho a analisar este pequeno artigo.

Quando eu li que “Os dinossauros têm fornecido boas evidências a favor do criacionismo bíblico.” Meus olhos quase saltaram. E o texto continua com “Eles confirmam a juventude da Terra, pelo facto de ainda ser possível encontrar tecidos moles nos seus fósseis em excelente conservação.” Tal argumento audacioso tem base nesse artigo aqui, que é até interessante, mas não representa nenhuma evidência contra a evolução. Basicamente ele relata a descoberta de um fóssil identificado como um fóssil de tiranossauro, que ainda conserva algumas partes de tecido mole, o que é de se espantar, graças à idade de um típico fóssil, que impede a conservação desses tecidos.

O autor se mostra bastante ansioso em decretar a inconsistência da teoria da evolução, ou pior, ele se mostra quase seco por decretar o seu fim! Tudo isso por causa de UM artigo que anuncia UM caso que foge do padrão. Eu gostaria que os criacionistas aplicassem essa lógica às suas crenças também. Existe uma meia dúzia de estudiosos que defende a não existência de Jesus. (não só a inexistência do Jesus filho de Deus, mas a inexistência do Jesus histórico também) Algum criacionista decreta o fim de suas crenças ou se sente minimamente abalado por causa desses especialistas que nem compõem a maior parte da comunidade científica? Obviamente que não.

Com relação aos artigos que o blog citou, podemos colocá-los na mesma categoria dos que dizem que Jesus não existiu. As pesquisas científicas ocorrem a todo o momento e não raras vezes obtêm resultados que contrariam teorias já consolidadas. Mas é preciso ter em mente que tais descobertas só podem ser consideradas mesmo um FATO, quando a comunidade científica revê a pesquisa e chega às mesmas conclusões. Antes desse processo, o resultado em questão não pode ser levado por aí como se fosse um troféu, derrubando tudo e todos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

EXPLICAR não é JUSTIFICAR


Já algumas vezes me deparei com situações em que pessoas tentavam explicar um assunto e eram censuradas porque, segundo quem criticava, estavam tentando justificar algo que simplesmente não tem justificativa. Minha hipótese, que na verdade é algo até óbvio, é que na verdade não se tratava de JUSTIFICAR e sim de EXPLICAR. Essa é uma diferença aparentemente insignificante, mas que com os devidos exemplos, tudo se tornará claro.

Em assuntos delicados como o Nazismo, as pessoas costumam se envolver bastante emocionalmente, o que facilita a ocorrência dessa confusão. Poucas pessoas sabem que a suástica, originalmente, não é um símbolo nazista. O Budismo Tibetano adotou esse símbolo há milênios, que significa a fluidez de energia, a positividade e o ciclo de morte e reencarnação. Hitler, como se interessava quase obsessivamente em encontrar fundamentos ocultistas para suas práticas, fez algumas peregrinações ao Tibete a fim de encontrar provas da existência da raça ariana. Por sinal, outro conceito que também não foi inventado por Hitler. A raça ariana faz parte da mitologia nórdica, e é retratada como o povo descendente direto do deus Thor. Em relação à suástica, é bem fácil ver a diferença entre a empregada pelos budistas e a usada pelos nazistas. A do primeiro grupo é usada com as hastes viradas para a esquerda, e a dos últimos, para a direita.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tudo é Relativo. Ou não (Parte 2)


Essa é a segunda parte do texto [ver primeira parte] que mais uma vez mostra o brilhantismo de Einstein. Sua segunda teoria: A Relatividade Geral.

Newton, com a Lei da Gravitação Universal, dizia que a gravidade é uma propriedade que varia de acordo com a massa e com a distância em que um objeto está em relação a outro. Máxima expressa em equações. Só que Einstein foi o único que identificou um erro muito sutil, nessa equação. Newton não levava em consideração a variação de tempo em que um corpo fica na presença de outro. E isso significa que, para a física newtoniana, qualquer perturbação entre a distância e massa seria sentida imediatamente pelos corpos envolvidos. Por exemplo, se o Sol desaparecesse as perturbações gravitacionais decorrentes disso seriam sentidas por nós imediatamente, segundo Newton. Mas isso entra em desacordo com a Teoria da Relatividade Especial, que diz que nada pode se deslocar numa velocidade maior que a da luz. Logo, teria de decorrer um tempo entre o desaparecimento do Sol e a nossa percepção disso.[saiba mais] Tal corpo, para realizar essa proeza teria que ter uma energia infinita porque quanto mais rápido ele se desloca, mais energia ele precisaria pra manter o deslocamento e se acelerar. Na velocidade da luz, essa energia estaria num patamar infinito. A luz demora aproximadamente 8 minutos pra chegar até a Terra, como então a informação sobre a gravidade poderia chegar até nós em menos tempo? Pior...como poderia chegar instantaneamente?






Einstein notou isso e começou a trabalhar para resolver o problema. Outra questão que estava começando a dar problemas na época era a questão da natureza da gravidade. O que, afinal, é essa força? Nem Newton ousou responder isso. A única coisa que se sabia era que ela promovia atração entre a matéria. Einstein descobriu, através de diversas observações, dentre elas um eclipse em Sobral, aqui no Brasil, em 1919, que a luz é curvada pela gravidade. Assim foi comprovada a tese de Einstein.

Mas e a gravidade? O que ela é?

Se colocarmos uma bola de boliche numa cama elástica, a cama se curvaria por causa do peso da bola. Em seguida, se jogássemos várias bolinhas de gude na cama, elas iriam rolar e seu trajeto seria determinado pela geometria das deformações na cama, ou seja, as bolinhas ficariam, pelo menos por um tempo, rolando ao redor da bola de boliche. Pois é exatamente isso que acontece com a gravidade. A massa dos corpos curva o tecido do espaço-tempo, fazendo com que outros corpos ao passarem por perto, caiam nessas deformações. É isso o que acontece com o nosso sistema solar, por exemplo. O Sol possui uma massa absurda, se comparado à massa dos planetas ao redor, essa massa curva o tecido do espaço-tempo, e os planetas acabam ficando “presos” nessas deformações. Como no vácuo não tem como esses corpos frearem seu movimento, eles tendem a mantê-lo, só que numa trajetória curva, ao contrário de um asteróide se deslocando por alguma porção do espaço que não possua corpos para interferirem no movimento retilíneo.

Einstein complementou a Lei da Gravitação Universal, de Newton, e deu uns retoques onde era preciso. Uma pergunta bastante cabível nesse momento seria: Por que não aprendemos a Teoria da Relatividade no colégio, ao invés das velhas Leis de Newton? As Leis de Newton servem para fins práticos, quando é preciso fazer cálculos referentes a fenômenos que ocorrem em escalas terrestres. Quando se trata de cálculos para escalas de proporções estelares, elas apresentam falhas. Isso porque são leis incompletas, que fracassaram onde Einstein triunfou.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"As Várias Faces de Jesus"



Aproveitando a Páscoa, vou abordar aqui um assunto relacionado ao Cristianismo. Imaginar qual era o contexto da época entre a morte de Jesus e o surgimento da Igreja Católica certamente é algo que me deixa bastante curioso. Certamente é uma experiência reveladora, reflexiva e polêmica, imaginar como era o Cristianismo antes mesmo da elaboração da própria Bíblia.

Nos séculos II e III, vários manuscritos diferentes foram escritos.  Alguns deles estão na Bíblia, outros (a maioria) foram simplesmente excluídos, esquecidos ou mesmo queimados. Era uma época em que o Cristianismo como conhecemos hoje existia, mas existia juntamente com vários outros. Existiam várias correntes cristãs, que defendiam diferentes visões sobre a mensagem que Jesus deixou, o caminho a percorrer para alcançar a salvação e sobre a própria natureza do Deus judaico-cristão. E o mais surpreendente é que cada uma dessas diferentes correntes cristãs estava igualmente embasada em textos, assim como hoje os cristãos se sentem embasados pela Bíblia. Citarei aqui algumas dessas correntes cristãs dos séculos II e III e comentarei um tanto superficialmente sobre a cristologia que cada uma delas defendia. Espero que isso instigue o leitor a ler os livros que indicarei no final do post!


ADOCIONISTAS

Essa cristologia era seguida por uma seita formada por judeus, os ebionitas. Eles acreditavam que Jesus não nasceu de uma virgem nem era divino. Ele simplesmente era um judeu que seguia à risca as leis judaicas e no momento de seu batismo, Deus o adotou como seu filho. Em recompensa à essa disciplina, Deus teria feito Jesus ressuscitar.

DOCETAS

Essa cristologia, defendida pelo filósofo-mestre Marcião, é o extremo oposto da adocionista. Marcião seguia estritamente os escritos de Paulo. Esse grupo acreditava que a lei judaica era tão diferente dos dizeres de Jesus, que muitas vezes até a desafiava, que as duas não poderiam ter sido obra de um mesmo Deus. Dessa forma, o Deus dos judeus era o que havia criado o nosso mundo, o mundo material, enquanto Jesus tinha sido mandado por um Deus maior e realmente bondoso e misericordioso, que tinha vindo livrar o mundo do Deus egocêntrico dos judeus. Jesus nem mesmo era visto como um ser humano. Era visto como um ser totalmente divino. Então, na verdade ele não sentia dor, não tinha um corpo, não sentia fome ou sede, não sofria e não foi morto na cruz realmente. Tudo era só aparência. Não é coincidência a palavra “doceta” vir de uma palavra grega que significa “aparência”, “aquilo que parece ser”. Já que Jesus não podia morrer, já que era totalmente divino, a crucificação não passou de uma encenação de sacrifício feita para que o Deus dos judeus deixasse o mundo em paz e deixasse os humanos nas mãos do Deus que havia mandado Jesus.

SEPARACIONISTAS

O grupo de cristãos primitivos mais famosos sem dúvida é o grupo dos gnósticos. Esse talvez seja o maior grupo. Tal cristologia é defendida pelos cristãos chamados gnósticos. Segundo eles, Jesus não era nem completamente humano completamente divino, mas meio humano e meio divino. É como se Jesus fosse um ser humano normal e o Cristo tivesse se apossado dele para exercer seu ministério. Segundo os gnósticos, uma certa divindade (existiam uns 300 deuses) tinha sido excluída da camada celestial. Uma vez excluída, ela resolveu criar o mundo material e criar nós, humanos. E escolheu o povo judeu para fazer aliança. Esse Deus dos judeus, assim como o Deus segundo os docetas, era um Deus egoísta, mesquinho, possessivo e sanguinário, já que exigia sacrifícios de animais, apedrejamento como pena para vários pecados.

Segundo eles, todo ser humano teria uma centelha divina que podia ser liberada se tivesse o CONHECIMENTO secreto que possibilitasse tal coisa. Daí vem o nome “gnóstico”, da palavra grega gnosis que significa “conhecimento”. Existia um Deus supremo, mais poderoso e mais bondoso que o Deus judaico. Esse Deus mandou Cristo para exercer seu ministério através do corpo de Jesus. Dessa forma, o plano do Cristo era que o corpo de Jesus fosse sacrificado para que a centelha divina, Cristo, fosse libertada. É por isso, segundo os gnósticos, que no momento da crucificação Jesus diz antes de morrer: “Deus, Deus, por que me abandonaste?”. Ou seja, Deus,  a fagulha divina existente em nós, literalmente abandonou Jesus. Como uma forma de retribuir a fidelidade de Jesus, o Cristo ressuscitou seu corpo para que a tal fagulha divina continuasse seu ministério na Terra.

Intrigante, não? Bom, não vou comentar a fundo aqui, mas a doutrina cristã que chegou até nós com a Igreja Católica, foi a interpretação vencedora dentre essas que eu citei. É claro que esse assunto é bem mais complexo e longo, então, pra quem ficou interessado, recomendo os seguintes livros:

Os Evangelhos Gnósticos – Elaine Pagels
O Que Jesus Disse/ O Que Jesus Não Disse – Bart Ehrman
O Problema com Deus – Bart Ehrman
Evangelhos Perdidos – Bart Ehrman