Marcha das Vazias:
"É isto que eu acho que acontece com a Marcha das Vadias. Pessoas
preparam o terreno jogando a lama e as vadias vão, descem, caem,
lambuzando-se todas como se lutassem por respeito."
Hoje,
enquanto eu pensava sobre mulheres seminuas segurando cartazes,
referi-me ao evento em voz alta como marcha das "vazias" e não das
"vadias", como é conhecido. Como podes imaginar, isto já in dica
o que, no fundo, penso sobre o assunto. Vê bem, eu sou CONTRA a
violência gratuita, inclusive, claro, contra o estupro. Não gostei da
piadinha do Rafael Bastos sobre o assunto que "mulher feia deveria
agradecer o estuprador", tão pouco concordo com a observação do policial
Michael Sanguinetti quando ele disse que "as mulheres evitassem se
vestirem como vadias (sluts, no inglês original), para não serem vítimas
(de estupros)". Não acho que nenhuma mulher deva usar burca ou se casar
virgem. Sou a favor do aborto e acho que as garotas podem se vestir
como quiserem, de forma provocante ou até mesmo de gosto duvidoso. Até
porque, diz a lenda popular, que a maioria das mulheres se veste para
competir com outras mulheres e não necessariamente para chamar a atenção
de homens. Eu não sei, eu acho que é um misto de várias inclinações,
como a vontade de se sentirem atraentes, de se autoafirmarem, de estarem
na moda, de pertencerem a um grupo, de provocarem ou simplesmente por
se sentirem bem usando tal roupa. Seja como for, querem usar pedaços de
panos curtos com brilhinhos e achar que estão arrasando? Querem usar
saias que não tampam nada e dançarem até o chão fazendo claras
referências a atos sexuais? Querem fazer beicinhos em programas de TV?
Querem usar shorts que se colam na bunda, nos quais a divisão da
“piriquita” fica terrivelmente explícita? Querem usar roupas coladas que
muitas vezes não combinam com o tipo de corpo, mas, ao contrário, o
desvaloriza? Querem ser não apenas sensuais, mas claramente vulgares?
Bom, isto é o problema de cada um, não sou contra isso. Vejamos: ser
vulgar é ser comum, banal, barato. Qualquer um deve ter o direito de se
sentir, afinal numa democracia, a grande massa, a maioria, reina. Não
sou nem mesmo "contra" a marcha das vadias. Eu apenas acho que esse
evento, como é feito, é de muito mal gosto. Não acho, sinceramente, que
ele irá "chocar" como as pessoas acham que irá. Isto porque mulher
pelada todo mundo vê o tempo todo, basta ligar na TV, em qualquer canal,
que vamos ver mulheres de vestidos curtos, saias, pedaços de pano ou
biquínis que nada escondem. Mulher sem calcinha também. Esses programas
de fofocas amam falar que tal estrela não usa calcinha debaixo de um
vestido super colante para não marcarem a peça. Então, não vejo nada
chocante na imagem de mulheres com roupas minúsculas. O BBB está cheio
delas. Não acho que desta forma irão chamar atenção para o que realmente
importa no evento: discutir o aborto, a violência contra as mulheres e
outros assuntos realmente relevantes, como a diferença de salários entre
os sexos. Digo isso porque frases como "danço funk sem calcinha e a
buceta continua sendo minha" e "minha buceta é meu poder" etc são
simplesmente toscas. Eu nem digo que tais frases são "degradantes"
porque nós vivemos numa sociedade que adora degradar o outro e ver
pessoas em estados hiper, blaster constrangedores, então apelar para o
tosco, para o ápice da deteriorante não é apenas normal, mas também
desejável para a maioria vulgar, para a massa mediana e baixa. Vide o
Pânico na TV e nossa atual "comédia", especialmente brasileira -
retratos perfeitos da degradação humana. Eles ultrapassam o mediano e
alcançam o baixo, a lama e lá se divertem, aos aplausos de outros tantos
lameados. É isto que eu acho que acontece com a Marcha das Vadias.
Pessoas preparam o terreno jogando a lama e elas vão, descem, caem,
lambuzando-se todas como se lutassem dignamente por respeito. Um exemplo
claro: professores preconceituosos chamam alunos de macacos. Como eles
respondem: "olha para nós, somos macacos e fazemos macaquices por sermos
livres". Isso é liberdade ou é justificar o que os preconceituosos já
disseram? A Marcha das Vadias realmente está sendo debatida como um
movimento político ou como uma desculpa para os homens observarem seios
"politizados"? Quando se fala em ir pro funk sem calcinha, que direito
está sendo pedido? Funk já foi institucionalizado, já faz parte da
cultura brasileira. Não se proíbe ninguém de andar sem calcinha. Acho
apenas que não é algo higiênico. E as frases de mulheres falando sobre
beber livremente? Não vejo lei que as proíba, mas, ao contrário, homens
adoram "mulheres soltas", "no ponto do álcool". Há muito a ser debatido,
mas me focarei apenas nos já apresentados. Não acho o nome digno de um
movimento. Não estou em extremos: não sou religiosa, adoro minha
liberdade sexual, mas uma sociedade que passa estímulos sexuais o tempo
todo, de forma desorganizada e degradante, realmente gera frutos
distorcidos como o "movimento das vazias", digo, "vadias".