sexta-feira, 22 de junho de 2012

No fundo, todas as decisões são irracionais

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Na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles disse que o homem era um animal racional, e essa seria a característica distintiva entre nós e os outros animais. No entanto, hoje temos motivos para supor que essa classificação supervaloriza um processo mental que pode não significar tanto assim na maioria dessos processos de decisão.

Como nós decidimos? A resposta mais intuitiva é que nós analisamos os prós e contras das opções e em seguida deliberamos a melhor opção. Tudo isso seria feito através da razão. Uma simples ida ao supermercado ou ao shopping é o suficiente para colocarmos esse dom em prática. 

 Acontece que uma série de pesquisas – há muitos anos – vem mostrando que não é bem assim que nosso cérebro trabalha durante a tomada de decisões. Parece que a maior parte dos “cálculos” que fazemos no ato da escolha não é consciente, ou seja, acontecem sem o comando da razão, da consciência. 

O documentário produzido pela BBC – Como Melhor Tomar Suas Decisões – mostra uma série de experimentos interessantes que demonstram tal coisa e ainda revelam os erros que esse processo implícito gera. Considere a seguinte atividade, por exemplo:

  • É oferecida a quantia de R$20,00 para um indivíduo. Ele pode pegar a quantia e ir para casa – ou para o shopping – ou pode escolher participar de uma aposta em que, caso ganhe, poderá aumentar o valor para R$50,00. 
  • Em outro caso, R$50,00 são oferecidos, no entanto, o pesquisador retira na mesma hora R$30,00 do bolinho de notas, restando R$20,00. Mas o indivíduo tem a chance de recuperar  o valor e sair com os R$50,00, participando de uma aposta. 

Qual a diferença entre as duas situações? Racionalmente, nenhuma diferença. No entanto, os resultados mostram que a maioria dos participantes do segundo experimento escolhem apostar, mas no primeiro uma minoria realiza tal escolha. Mas a coisa começa a clarear quando analisamos o cérebro das pessoas no momento dessas tomadas de decisão. 

Esses estudos revelam que durante as decisões, duas principais partes são ativadas em nosso cérebro: amígdala e córtex pré-frontal. O primeiro é responsável por processos ligados à emoções, à ações rápidas ligadas à emoção e etc. O segundo é o grande responsável pela razão humana. É exatamente essa área que nos permite abstrair idéias com a eficiência que fazemos e de seguir a lógica. Então, quanto mais automática é uma decisão – quanto menos interferência da razão há – mais a amígdala se ativará, em detrimento das áreas frontais. 

Isso explica a diferente atitude das pessas frente a essas duas tarefas que, logicamente são idênticas. Parece que quando identificamos sinais de perda em alguma situação, áreas cerebrais relacionadas à emoção são ativadas mais fortemente – e mais rapidamente – que as áreas responsáveis pelo pensamento racional. Assim, apesar de na prática termos perdido tanto quanto na primeira situação – ou seja, nada – temos a sensação de que houve uma real perda, o que nos motiva a tentar repará-la, realizando a aposta. E toda a diferença na formulação das duas situações está no fato de que, na segunda, o pesquisador dá o valor e depois retira um pouco e, na primeira, ele fornece diretamente os R$20,00. 

Esses experimentos são importantes por vários motivos. Exercem impacto sobre a economia, reforçando a falha da teoria do consumidor racional, que alega que os processos de decisões econômicas são feitas pela razão. E também geram certo desconforto filosófico no homem – e nos pesquisadores de áreas que gostam de afirmar a superioridade humana devido à capacidade de utilizar a razão – porque, afinal, esses experimentos mostram que não somos assim tão senhores de si como gostamos de nos imaginar.