Na Grécia
Antiga, o filósofo Aristóteles disse que o homem era um animal racional, e essa
seria a característica distintiva entre nós e os outros animais. No entanto,
hoje temos motivos para supor que essa classificação supervaloriza um processo
mental que pode não significar tanto assim na maioria dessos processos de
decisão.
Como nós
decidimos? A resposta mais intuitiva é que nós analisamos os prós e contras das
opções e em seguida deliberamos a melhor opção. Tudo isso seria feito através
da razão. Uma simples ida ao supermercado ou ao shopping é o suficiente para
colocarmos esse dom em prática.
Acontece que
uma série de pesquisas – há muitos anos – vem mostrando que não é bem assim que
nosso cérebro trabalha durante a tomada de decisões. Parece que a maior parte
dos “cálculos” que fazemos no ato da escolha não é consciente, ou seja,
acontecem sem o comando da razão, da consciência.
O
documentário produzido pela BBC – Como Melhor Tomar Suas Decisões – mostra uma
série de experimentos interessantes que demonstram tal coisa e ainda revelam os
erros que esse processo implícito gera. Considere a seguinte atividade, por
exemplo:
- É oferecida a quantia de R$20,00 para um indivíduo. Ele pode pegar a quantia e ir para casa – ou para o shopping – ou pode escolher participar de uma aposta em que, caso ganhe, poderá aumentar o valor para R$50,00.
- Em outro caso, R$50,00 são oferecidos, no entanto, o pesquisador retira na mesma hora R$30,00 do bolinho de notas, restando R$20,00. Mas o indivíduo tem a chance de recuperar o valor e sair com os R$50,00, participando de uma aposta.
Qual a
diferença entre as duas situações? Racionalmente, nenhuma diferença. No
entanto, os resultados mostram que a maioria dos participantes do segundo
experimento escolhem apostar, mas no primeiro uma minoria realiza tal escolha. Mas
a coisa começa a clarear quando analisamos o cérebro das pessoas no momento
dessas tomadas de decisão.
Esses estudos
revelam que durante as decisões, duas principais partes são ativadas em nosso
cérebro: amígdala e córtex pré-frontal. O primeiro é responsável por processos
ligados à emoções, à ações rápidas ligadas à emoção e etc. O segundo é o grande
responsável pela razão humana. É exatamente essa área que nos permite abstrair
idéias com a eficiência que fazemos e de seguir a lógica. Então, quanto mais
automática é uma decisão – quanto menos interferência da razão há – mais a
amígdala se ativará, em detrimento das áreas frontais.
Isso explica
a diferente atitude das pessas frente a essas duas tarefas que, logicamente são
idênticas. Parece que quando identificamos sinais de perda em alguma situação,
áreas cerebrais relacionadas à emoção são ativadas mais fortemente – e mais
rapidamente – que as áreas responsáveis pelo pensamento racional. Assim, apesar
de na prática termos perdido tanto quanto na primeira situação – ou seja, nada
– temos a sensação de que houve uma real perda, o que nos motiva a tentar
repará-la, realizando a aposta. E toda a diferença na formulação das duas
situações está no fato de que, na segunda, o pesquisador dá o valor e depois retira
um pouco e, na primeira, ele fornece diretamente os R$20,00.
Esses
experimentos são importantes por vários motivos. Exercem impacto sobre a
economia, reforçando a falha da teoria do consumidor racional, que alega que os
processos de decisões econômicas são feitas pela razão. E também geram certo
desconforto filosófico no homem – e nos pesquisadores de áreas que gostam de
afirmar a superioridade humana devido à capacidade de utilizar a razão –
porque, afinal, esses experimentos mostram que não somos assim tão senhores de
si como gostamos de nos imaginar.