sábado, 10 de julho de 2010

Epilepsia e Religião

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Aqui estou eu novamente para mostrar que eventos aparentemente sobrenaturais ou mesmo próprios de uma suposta alma, não passam (como as atuais evidências nos mostram) de manifestações da própria matéria, ou mais especificamente, do nosso cérebro.


Já ouvi diversos relatos de pessoas que alegam terem tido alguma experiência extracorporal, ou seja, elas (suas almas) foram projetadas para longe de seus próprios corpos. Para elas essa é a prova incontestável da existência do espírito. Lembro que numa dessas situações eu tentei dar uma explicação para tal fenômeno, mas nem quiseram me ouvir; falaram que eu sempre estrago a magia do momento. Então, vou compartilhar aqui com todos a explicação, e ainda algo mais.
Jesus "curando" um epilético?

A epilepsia certamente é um transtorno que arruína com a vida de muitas pessoas, mas ela não deixa de ter seu lado curioso. Existem muitos tipos, com diferentes intensidades, de epilepsia. Um deles é a do lobo temporal. Todo tipo de epilepsia é caracterizada por uma descarga sincronizada e intensa de estímulos entre os neurônios. O que define se é um tipo ou outro do distúrbio é o local do cérebro envolvido nessas descargas, aqui vou tratar da que ocorre justamente no lobo temporal (áreas laterais de nosso cérebro). Existem várias personalidades famosas que passavam por esse problema: Van Gogh, Dostoiévski e Paulo (esse mesmo...o apóstolo). Dostoiévski descreveu em seus livros, com riqueza de detalhes, como era a sensação vivida no momento desses ataques. Os ataques eram precedidos por uma sensação incrível de unidade, de transcendência, felicidade. Tais sensações são chamadas hoje de auras extáticas. Além disso, o déjà-vu e a fuga de idéias também eram sintomas freqüentes. Já Paulo escreve em suas Cartas, que tinha um “espinho [ou aguilhão, dependendo da tradução] na carne”, que o “impedia de ser orgulhoso demais.”, provavelmente uma referência àqueles movimentos bruscos que caracterizam os ataques epiléticos. Esses paralelos são traçados tendo como referencial o que os pacientes dizem hoje sobre como se sentem com o transtorno e notamos daí notamos essas notáveis relações. Outra interessante é o fato de os epiléticos sentirem um profundo sentimento de certeza moral, um sentimento que proporciona uma sensação de controle absoluto de tudo, após alguns turnos de crise. Paulo também aparenta ter esse profundo sentimento quando acha que qualquer um que discorde dele o faz por motivos fúteis, ou seja, sua certeza moral é tamanha que ele nem mesmo consegue refletir sobre o que é dito devido à sua sensação de certeza absoluta, de controle absoluto da situação. Essa visão que reduz a experiência de Paulo à uma simples descarga elétrica intensa em seu cérebro é bem controversa, mas ainda sim é uma explicação. Alguns diriam que talvez Deus tenha nos feito com o lobo temporal propositalmente, para que nós possamos atingir uma dimensão espiritual oculta. Também pode-se afirmar que dificilmente Paulo teria epilepsia já que crises tão pouco discretas como as da doença, certamente fariam com que Paulo fosse visto como alguém possuído por demônios. 
Alguns tipos de crises são tão agudas que a única solução viável é a via cirúrgica. Momentos antes os médicos costumam estimular o cérebro dos pacientes, nas áreas afetadas pelas crises, na intenção de simular os estados posteriores à operação e assim ter uma idéia de suas conseqüências. E é nesses casos que ocorre algo sem igual. Durante a estimulação do córtex temporal foram relatadas experiências em que o os pacientes tinham a sensação de levitar e viam seus corpos de cima.
Capacete usado no EEG

Testes em que epiléticos do lobo temporal são colocados em frente a um monitor onde passam imagens sobre sexo, filmes, música, palavras que fazem alusão a Deus, orações, imagens religiosas em geral e violência, também revelam resultados peculiares. O observado em pessoas que não sofrem do distúrbio ou então epilético, mas não do lobo temporal, é que as imagens mais impactantes, segundo o que foi mostrado no EEG, foram as referentes a sexo e violência. Em quem sofria do distúrbio do lobo temporal, foi detectado que as imagens que despertaram as sensações mais intensas foram as com temas religiosos e relacionados a Deus.

Até que ponto esses resultados se sobrepõem de forma a mostrar que as sensações religiosas mais intensas tem relação com o funcionamento anormal de certos locais do córtex cerebral? Tenho certeza que experimentos como esses podem despertar indignação na comunidade religiosa, mas é preciso lidar com os fatos e também ter cautela na hora de interpretá-los, assim como bom senso. É inevitável que nessa situação escolhamos um lado, acho que o que eu escolhi ficou claro, e vocês, qual escolhem?