sábado, 30 de abril de 2011

Video Games: Reflexo ou Produção da Juventude?

+A +/- -A


Os vídeogames fazem parte da nossa vida. Quem tem um filho sabe disso, assim como quem (mesmo não tendo filhos) nasceu no fim dos anos 80 em diante também sabe. Eles são usados para fazer a diversão da galera, para treinar as habilidades de tiro e de vôo dos militares e, mais recentemente, até como forma de exercitar os idosos e de melhorar o desempenho cognitivo de crianças e adultos. Apesar de todas essas boas notícias o senso comum tem os jogos eletrônicos como vilões. É verdade, alguns estudos sugerem que de fato há alguma influência nos comportamentos violentos, mas será que vale a pena demonizar a era dos jogos digitais? 


O Vilão

GTA - um dos jogos mais violentos
A maioria das pessoas e alguns pesquisadores, acreditam que os vídeogames são uma das causas da violência entre os jovens. Uma amostra de como essa relação é verdadeira seria o elevado número de casos de chacinas feitas por jovens nos EUA, país onde a grande maioria desses jovens possuem acesso a jogos violentos como Counter Strike, Doom, Mortal Kombat e outros. Sociólogos, como Sissela Bok, professora da Universidade de Harvard, em reportagem à Super Interessante, alegam que a violência produzida na tela tem um efeito de dessensibilização, chamado de fadiga da compaixão, em que o sofrimento alheio passa a ser encarado com indiferença. “Nossos filhos estão aprendendo a matar – e a gostar disso”, diz o tenente-coronel reformado David Grossman, ex-professor de Psicologia da Academia Militar de West Point e da Universidade de Arkansas, nos Estados Unidos. Um experimento realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade do Sul do Colorado, EUA, em 1988, selecionou um grupo de 31 crianças de uma creche, com idade entre 5 e 7 anos. Foram divididas em dois grupos: um grupo jogou um jogo eletrônico em que o personagem principal era um karateca que tinha que lutar contra outro personagem até matá-lo, ou morrer, caso perdesse a partida. O jogo do outro grupo era um em que as crianças tinham que guiar o personagem de cipó em cipó e ir passando para outras árvores. Cinco minutos depois elas foram levadas até uma sala onde existia um joão-bobo vestido de kimono. As crianças que tinham jogado o joguinho do karateca não pensaram duas vezes antes de dar uns golpes no boneco. Já o outro grupo de crianças preferiu continuar com seu joguinho do cipó. Os pesquisadores interpretaram esse resultado como se as crianças do jogo de luta tivessem ficado mais violentas. Recentemente, no Brasil, o caso do atirador que matou várias crianças em uma escola em Realengo foi usado como exemplo de violência influenciada por jogos violentos em um programa da Rede Record. 

 
O Mocinho

Tom e Jerry incitaria a violência?

Pesquisas mais atuais vem contestando essa visão pessimista. Mas a parte que melhor depõe a favor dos games são os dados estatísticos. “A ocorrência de episódios violentos envolvendo jovens de 12 a 15 anos está diminuindo desde 1997, quando foi lançada a primeira versão do GTA. Naquele ano, eram 87,9 ocorrência para cada grupo de 1000 adolescentes. Em 2004, elas já tinham caído para 49,7.” (S.I. março 2011). “Nas últimas décadas, a popularidade dos videogames disparou em países como EUA e Japão. Ao mesmo tempo, as taxas de violência infantil caíram”, afirma o psicólogo Christopher J. Ferguson, professor de ciências aplicadas e comportamentais da universidade A&M International, no Texas. Segundo Ferguson, os estudos mais antigos sobre o assunto são menos rigorosos que os atuais. Esses mais recentes mostram que os jogos violentos aumentam a agressividade de jovens de 0 a 2,5%, isto é, algo irrelevante.

Considerações Finais

A noção de que os videogames estão envolvidos na origem dos comportamentos violentos está tão difundida que serve de explicação para os mais recentes eventos violentos, como o de Realengo. Em parte, essas pessoas não estão erradas, afinal, é intuitiva essa relação. Além disso, pesquisas sustentam tal opinião. O grande problema, talvez, seja que essas pesquisas sejam pouco rigorosas, como diz o psicólogo Ferguson. As pesquisas mais atuais mostram uma relação contrária, em que os jogos violentos diminuiriam a violência entre os jovens, ou teriam efeitos insignificantes. Pensando em um contexto mais amplo, talvez não aja mesmo essa relação, como tais pesquisas mostram. Talvez nossa intuição também não seja tão eficiente na hora de detectar verdadeiras relações causais entre fatores tão complexos. Talvez, na época em que o desenho de Tom e Jerry foi ao ar, algumas pessoas, talvez até estudiosos, tenham dito que esse tipo de programa incitaria a violência. Veja, por exemplo, o caso do garoto que deu uma facada no pescoço do pai durante uma discussão sobre o jogo Fifa (o garoto estava jogando Fifa no momento). Será que Fifa incita a violência? Bom, seguindo o raciocínio dos detratores, jogos como Fifa aumentariam o desejo dos jovens de se tornarem jogadores de futebol? Ou será que eles desenvolveriam um desejo de sair chutando pessoas ou coisas como se fossem bolas? “Em vez de procurar um bode expiatório para o mau comportamento dos seus filhos,os pais deviam estar mais preocupados em melhorar o relacionamento com eles, demonstrando afeto e procurando conhecê-los melhor. Sentar com eles para uma partida de videogame talvez seja um bom início de conversa...”, diz o psiquiatra, psicólogo clínico,bacharel em direito e professor da PUC-SP, Haim Grunspun. 

Veja o video abaixo: 




Referências:

Super Interessante, Edição Especial, 2011, Março