domingo, 16 de janeiro de 2011

Até Que Ponto Somos Livres?

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Será que você está lendo esse texto agora porque de fato desejou ou alguma outra coisa fez com que isso acontecesse sem que você soubesse? Será que você teve plena chance de escolha? Questionamentos sobre isso existem desde que a filosofia despertou na Grécia Antiga há mais de 2000 anos e hoje, no século XXI temos respostas não mais tão puramente filosóficas, mas que ainda sim continuam nos deixando de cabelos em pé. 


Certamente é complicadíssimo isolarmos o que exerceu influência em um evento humano específico. Nossas escolhas são fruto de um complicado conjunto de dados obtidos através de nossa memória, de vivência, o que inclui lições, traumas, padrões de comportamento quaisquer. Dependendo do caso analisado ainda temos a mais ou menos pronunciada influência da genética. Esses e outros fatores se misturam de forma a tornar complicadíssima a conceituação de algo chamado “livre arbítrio”. O que seria isso?

Se por livre estamos querendo nos referir a uma situação em que influências externas ou determinações internas não foram relevantes, então livre-arbítrio certamente não existe. Se o conceito envolver algo como uma capacidade nossa de escolher determinados caminhos que por sua vez são criados em nossa mente pelas influência múltiplas às quais estamos submetidos (não só que nos sumetem, mas que nos criam), aí já começamos a chegar em um lugar mais palpável. 

Um estudo recente pode nos ajudar a lidar melhor, ou confundir mais ainda nossas reflexões. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Berlim de Neurociência Comportamental, em Berlim, mostrou que nossas escolhas não são primeiramente conscientes, mas sim de origem inconsciente. Numa tela de computador passava uma sequência de letras aleatórias e os voluntários tinham que escolher algum desses números e clicar. Um experimento simples, mas de conclusões complexas. Durante o teste, o cérebro dos voluntários estava sendo monitorado e foi registrada uma ativação nos córtex frontopolar e medial, estruturas responsáveis pela tomada de decisões. Tudo normal, exceto pelo fato de que essa ativação se dava cerca de 10 segundos antes de o indivíduo tomar a iniciativa de escolher qual letra clicar. “Nos casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência”, afirma o cientista John Dylan-Haynes.

Tudo isso significa que de alguma maneira nós tomamos escolhas primeiro à nível inconsciente para que depois essa escolha vá para o nível consciente. Na consciência é que temos a impressão de que a escolha se deu livre e espontaneamente. Isso é um reflexo do modo pelo qual o cérebro organiza suas informações e processos. O inconsciente não é nenhuma instância sobrenatural, misteriosa e ocultista, como alguns conspiradores gostam de dar a entender; ele é só uma questão de processamento de informação. O processamento consciente de informações consome um razoável contingente de energia (sim, pensar realmente gasta energia) então é uma medida bem eficiente desviar certos processamentos para um nível inconsciente, que gasta menos energia. Imagine, por exemplo, se ao lutarmos tivéssemos que raciocinar minuciosamente sobre cada passo que devêssemos tomar. Iríamos acabar como naquela ótima cena do filme Sherlock Holmes (veja abaixo), em que o detetive, interpretado por Robert Downey Jr., antes de realizar cada defesa ou cada  ataque, raciocina o possível movimento do oponente e baseado nisso já pensa no que faria depois e depois e depois...
 
É como se ele estivesse jogando xadrez, ou seja, ele antecipa diversos movimentos mentalmente antes de realizar um único. Isso, na realidade, geraria um gasto de energia imenso. Para polpar esse gasto desnecessário e ainda aumentar a velocidade do processo, nosso cérebro lida inconscientemente com a informação. É por isso que, ainda com o exemplo da luta, muitas vezes não precisamos “pensar” em como nos defender de um ataque ou realiar uma jogada de xadrez; a defesa simplesmente acontece. É por isso que tanto nós lutadores quanto atletas em geral treinam bastante, para tornar seus movimentos o mais natural possível.  
 
Sendo assim, qual seria a utilidade de “jogar” para nível inconsciente o processamento da escolha? Seja como for, agora os cientistas querem ver o resultado dos testes aplicados a experiências mais complexas que simulem a complexidade do dia-a-dia, para ver se nosso cérebro age da mesma forma. “Não se sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de ação”, diz Haynes. “Ainda temos muito mais pesquisas para fazer.” 

Saiba Mais:


-Quem Sou Eu? E Se Sou, Quantos Sou? - Richard David Precht
-Como a Mente Funciona - Steven Pinker


9 comentários:

Construindo História Hoje disse...

Gostei do seu blog,pois faz as pessoas pensarem, mas não concordo com todas suas opniões. Acredito que podemos aprender mais através da troca de informações!
Leandro CHH

Enéias Teles Borges disse...

Estou seguindo seu blogue. Parabéns pelo trabalho.

Abraços.

Felipe disse...

Leandro, com certeza. A troca de informações é algo essencial em qualquer meio de comunicação e também na ciência. Mesmo que as opiniões em questão não sejam iguais. Sinta-se à vontade para expor seus pontos de vista contrários aqui. :)

Enéias, obrigado por seguir meu blog. Volte sempre!

Abraço a todos.

Altamirando Macedo disse...

Felipe, obrigado pela visita e espero repetições. Li algumas postagens e achei coerentes, parece que temos o mesmo alvo.
Abraços.

Felipe disse...

Valeu, Altamirando!
Visitarei mais vezes, sim.
Grande abraço!

Marina disse...

Nossa, achei um irmão perdido! hahah pior q eu sempre pensei sobre isso, nós podemos até ter escolhas, mas no fim, sempre escolheríamos a mesma coisa, então no fundo nossa decisão era previsível! igual em filmes tipo "de volta para o futuro"...qual é a regra? não interagir com as pessoas... e se vc não interagir, nada vai mudar! então não importa o q aconteça,sempre escolheríamos o mesmo caminho, a não ser q viesse alguém do futuro e dissesse q aquilo não vai ser lega! divaguei um pouquinho haha

Felipe disse...

Po, o que mais explode minha cabeça nesses filmes de viagem no tempo é que geralmente o motivo que fez a viagem se tornar necessária acaba se tornando o fato que desencadeou o mesmo futuro dos caras que viajaram. Tipo com Exterminador do Futuro. O cara volta a mando do John Connor pra salvar a mãe para que ela não fosse morta pelo Exterminador e pudesse gerar o próprio Connor. Só que o carinha mandado pro passado pra salvá-la é quem acaba se apaixonando por ela e engravidando a muié!!! Que isso!! Minha cabeça dá voltas...rs Aí a pergunta que se faz necessária é: será que o tempo é imutável?? Será que o "destino" de todo mundo já está programado e que nossa noção de passado e futuro é um fenômeno ilusório?

Não sei se vc viu Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, mas lá tem uma parada parecida com aquele vira-tempo da Hermione. Tem uma hora que tacam uma padrinha, sei lá, nela...mas depois quando ela volta no tempo com Harry e Rony, descobre que foi ela mesma que tacou a pedra nela mesma...mas antes da viagem no tempo, quem tacou?? rs Putz...divagamos pouco agora né

Um Ser Pensante disse...

Hoje em dia tá ficando comum se falar em não haver liberdade. Acho que essa "descoberta" provavelmente não mude nada, pois é muito bem possível que o consciente "programe" o inconsciente para certas tarefas que ele está cansado de repetir.

E se a programação é feita pelo consciente, então é livre.

Felipe disse...

Na verdade, essa programação não é bem feito pela consciência, não. Existe um experimento, comentado até por alguns filósofos como Daniel Dennett em artigos, com matéria em revistas como a Super Interessante e tal, que mostra que as decisões que tomamos primeiro são tomadas inconscientemente para depois aquilo ser acessado pela consciência. Ou seja, isso em si já mostrar que, pelo menos no que tange aos nossos julgamentos e decisões, a participação da consciência é maior do que nós pensamos.

Agora, em relação ao processamento de tarefas do nosso cérebro...sim, no período de aprendizado nós primeiro racionalizamos o processo para, com o tempo, aquilo sair da consciência e ser executado à nível inconsciente. Então acho que não podemos falar numa liberdade plena da consciência.

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