sábado, 15 de outubro de 2011

Consumo Conspícuo e Seleção Sexual - Porque Preferimos o Mais Caro

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Estamos vivendo numa época onde o ter sobrepuja o ser. Essa frase se tornou um clichê. Mas ela diz a verdade, realmente estamos muito mais sensíveis ao que o outro tem do que ao que ele é. Às vezes, o que se tem funciona como um indicador daquilo que se é. Claro que algumas pessoas fogem a essa regra, mas o quanto elas realmente fogem? Será que é possível fugir de tal tendência totalmente? Estudos interessantíssimos mostram que, além de avaliarmos a confiabilidade, beleza, respeitabilidade e status de alguém de acordo com o que essa pessoa possui, também levamos em conta – e muito – o valor gasto. Alguns estudiosos chegam a dizer que esse mecanismo está por trás não só da mente humana, mas também das relações de seleção sexual de outros animais, mostrando que essa é uma tendência antiga que compartilhamos com outros seres. 


Costly Signaling Theory
O pavão é uma das aves mais bonitas que existem. Chama atenção a sua cauda, muito grande em relação ao corpo e coloridíssima.  Certamente ela chama a atenção de muitos predadores [ou talvez seus predadores sejam incapazes de perceber a cor das penas da mesma forma que nós, o que faça essas aves chamarem menos a atenção] mas algum outro benefício deve existir em sustentar uma plumagem tão chamativa e custosa. É sabido que as fêmeas são atraídas pelos machos que exibem a mais graciosa das caudas, isto é, de alguma forma, toda aquela parafernália ajuda na cópula, favorecendo a reprodução de uma maneira que supera o suposto risco de atrair predadores e parasitas. Mas o que chama a atenção das fêmeas ao verem aquela cauda? Será que o esquema de cores e o tamanho tornam aquele arranjo algo irresistível para elas?

A costly signaling theory (Miller, 2009; Saad, 2007) tem sido invocada com sucesso para explicar o uso de recursos que não possuem nenhuma funcionalidade manifesta (prática) (Bliege Bird & Smith, 2005; Cronk, 2005). Segundo essa idéia, o pavão, com todo seu dispendioso rabo, estaria sinalizando que é saudável e apto o suficiente para gastar recursos na manutenção de tal aparato e ainda conseguir obter alimento e sobreviver. Ou seja, é a lógica da ostentação das qualidades invisíveis possuídas. É como um marketing pessoal dos luxuosos recursos do animal. 

O Consumo Conspícuo – Preferindo o cara ao invés do barato
Pássaro-caramancheiro
De acordo com o Global Luxury Retailing, os gastos mundiais com produtos de luxo chegarão a $450 bilhões em 2012, e 41,9% dos gastos se referem somente ao gasto com roupas (citado em Nelissen, 2011). Nelissen (2011) destaca o fato de que não é preciso ter uma renda muito alta para que a preferência pelo luxo se manifeste. De fato, até mesmo pessoas pobres em países em desenvolvimento se comportam dessa forma, por exemplo, preferindo roupas de marca do que sem marca ou de marcas menos luxuosas (mais baratas), o chamado consumo conspícuo (Veblen, 1899). De fato, essa face do comportamento humano acaba com a visão de consumidor racional que alguns economistas alimentam. Mas a lógica da preferência pelo mais caro é regida pelo ganho de status social. Status pode ser definido como a posição mais alta ocupada em algum setor das relações humanas, seja no mundo acadêmico, nas empresas, na rua, em casa, numa tribo e etc (Hyman, 1942).

Estudos de psicologia e outros com viés comparativo sugerem que esse é um fenômeno que rege o comportamento humano (Cummins, 2005; Miller, 2009; Saad, 2007), assim como o de primatas não humanos (de Waal, 1982); isso sem falar no exemplo do pavão, que mostra que essa é uma tendência dos animais em geral. Dessa forma, é coerente refletir sobre o fato de que para que os humanos consigam ostentar algo com sucesso, é de suma importância que o observador consiga processar aquilo como um indício das qualidades do ostentador. E o motivo de a seleção natural ter selecionado uma mente com capacidade para processar esse tipo de relação, é que a ostentação, seja do que for que tenha valor em dado cenário e época, beneficia as relações sociais para o ostentador. Nelissen (2011) realizou experimentos que corroboram essa hipótese. Mas, antes, vamos definir os critérios para que um comportamento seja considerado um consumo conspícuo:

   1) Deve ser algo facilmente observável (ex: o rabo do pavão; uma longa capa, coroa brilhante e outros adereços dos reis; ninhos exageradamente ornamentados do pássaro-caramancheiro, um logo de uma roupa de grife);

   2) Deve ser um sinal difícil ou/e custoso de se falsificar;

   3) O sinal deve estar relacionado a algo que não é observado diretamente, ainda que seja desejável e que denote as qualidades do ostentador, como saúde, proteção e bons genes para uma prole saudável;    4) O adereço, ou sinal, deve produzir um chamamento corporal.

Os exemplos do item 1 servem para todos os outros itens. Mas ao qual eu quero dar evidência é o último, as marcas de roupas

As Marcas de Roupas e a Ostentação do Consumo Conspícuo
Como vimos, os animais tendem a evidenciar os seus atributos não visíveis diretamente através do gasto funcionalmente desnecessário com elementos dispendiosos e chamativos, como uma forma, também, de promover seu status. Os humanos fazem exatamente isso. Observe os trajes e adereços desses indivíduos nas fotos a seguir:


Essa relação entre o consumo conspícuo, ostentação como referência a qualidades invisíveis e status ficou bem evidente, por exemplo, nos 9 experimentos feitos por Nilessen (2011) e sua equipe. No primeiro, um pequeno bloco em que a capa tinha a foto de um rapaz de boa aparência e as outras folhas eram de um também pequeno questionário, foram distribuídos nas ruas. O objetivo do questionário era avaliar o homem nos quesitos status, condição financeira, atratividade, amizade e confiabilidade. O detalhe é que, para um grupo de pessoas foi distribuído um conjunto de testes em que a blusa de gola polo que o homem usava, possuía uma pequena logo de uma famosa marca. Outro grupo de fotos foi manipulado para ter a logo de uma marca menos valorizada. Os blocos que apresentavam a foto do homem com a logo mais famosa foram melhor avaliados nos quesitos status e condição financeira.
Num segundo experimento, um homem saiu por um shopping pedindo doações para uma instituição de caridade. A tarefa foi dividida em duas etapas: primeiro usou uma blusa verde e lisa, e depois, a mesma blusa, porém, com um logo de uma marca bem conceituada. Os resultados mostraram que a coleta realizada com a blusa com a logo foi mais bem sucedida.
Outro estudo mostrou que candidatos a uma vaga de estágio em um laboratório tinham mais chances de serem selecionados quando estavam usando uma blusa de marca também (com o logo da marca visível).

Conclusão dos Experimentos   
Mais outros experimentos foram feitos mas os resultados sempre mostravam que as marcar mais bem conceituadas eram sempre mais bem avaliadas em relação à importância, status e condição financeira, também eram mais aceitas socialmente e conseguiam despertar com mais sucesso a atenção do público e convencê-los de algo, tanto das qualidades necessárias para uma vaga de estágio quanto para convencer alguém a fazer uma doação. 

As Preferências Feminina e o Consumo Conspícuo Masculino
Outro interessante dado é a maior atenção dada  pelas mulheres ao consumo conspícuo durante o período de ovulação (Lens, 2011). Isso é compatível com o modelo da psicologia evolucionista, que considera que a mente humana possui uma cognição moldada no ambiente de adaptação evolutiva (AAE), no Pleistoceno. Isso significa que, caso essa predileção feminina esteja relacionada diretamente a uma tendência evolutiva, relacionada à seleção sexual, o grau dessa característica seria variável ao longo do ciclo menstrual, com uma maior tendência à prestar atenção aos indícios de status social durante a fase da ovulação (período fértil) (Anderson et al., 2010). De fato, já foi verificado que nessa fase, as mulheres apresentam alterações nas preferências de características masculinas, apresentando maior atração por homens altos, com rosto mais másculo do que infantilizado, e com papel social dominante (Gangestad, Thornhill &Garver-Apgar, 2005; Lukaszewski & Roney, 2009). Assim, seria natural pensar também numa consequência para a percepção dos indícios de status masculino, assim como uma eliminação desses efeitos nas mulheres que fazem uso de pílulas anticoncepcionais. O resultado da pesquisa corroborou essas hipóteses, mostrando que produtos relacionados a luxo e que não são destacados por sua funcionalidade, despertavam dignificativamente mais a atenção das que estavam em período fértil.

Conclusão
Todas essas evidências mostram uma estrutura cognitiva comum aos seres humanos e aos animais não humanos. Primeiramente, podemos dizer que uma evidência é o fato de que para a lógica do status funcionar, precisamos ter uma mente que saiba evidenciá-lo e, por outro lado, uma que saiba percebê-lo como tal. Esse mecanismo é evidente na seleção sexual, como no exemplo do pássaro-caramancheiro, que gasta energia, recursos, tempo, e corre o risco de ficar mais visível aos predadores, ao enfeitar seu ninho da melhor manira possível a fim de “seduzir” as fêmeas.
O consumo conspícuo é como se fosse uma regra que permanece constante mas que assume diversas faces no caso dos humanos. Hoje podemos dizer que essa estratégia é uma característica que foi mais útil na seleção sexual no nosso AAE até pouco tempo atrás, qundo era bem mais complicado de ostentar luxo sem que isso correspondesse diretamente a uma ampla gama de recursos, saúde e outras características buscadas pelas fêmeas. No caso dos humanos modernos, a possibilidade de comprar usando cartão de crédito, por exemplo, fez com que pessoas com baixa renda pudessem comprar coisas incompatíveis com suas possibilidades financeiras, considerando a compra à vista. Nossos ancestrais caçadores-coletores usavam adereços que mostravam claramente sua posição dentro do grupo. Indivíduos das altas hierarquias sempre eram os de idumentária mais barroca, o que persistiu até não muito tempo atrás, basta olhar as fotos de Reis e Imperadores e suas roupas e adereços barrocos. Porém, mesmo essas táticas não sendo tão eficazes hoje, essas pesquisas mostram que ainda continuamos com um cérebro ancestral.

Isso levanta uma hipótese interessante sobre a origem das roupas. Talvez as primeiras roupas servissem ao propósito de separar os indivíduos de acordo com sua posição social dentro das coalizões dos primeiros Homo sapiens sapiens e não para proteger do frio ou do calor, ou de parasitas. Ou, até, as primeiras roupas tenham servido a todos esses propósitos, matando vários coelhos com uma cajadada só.
  
Referências

- ANDERSON, U. S., Perea, E. F., Becker, D. V., Ackerman, J. M., Shapiro, J. R., Neuberg, S. L.et al.,  I only have eyes for you: Ovulation redirects attention (but not
memory) to attractive men. Journal of Experimental Social Psychology, 46(5),
804808, 2010.

- BLIEGE, B., R., & Smith, E. A.; Signaling theory, strategic
interaction, and symbolic capital. Current Anthropology, 46, 221248, 2005.

- CRONK, L. ; The application of animal signaling theory to human
phenomena: Some thoughts and clarifications. Social Science Information,
44, 603620, 2005.

- CUMMINS, D. D., Dominance, status, and social hierarchies. In
D. Buss (Ed.), The evolutionary psychology handbook (pp. 676−697).
New York: Wiley, 2005.

- DE WAAL, F., Chimpanzee Politics: Power and Sex Among Apes.
London: Jonathon Cape, 1982.

- GANGESTAD, S. W., Thornhill, R., & Garver-Apgar, C. E., Adaptations to ovulation.
In D. M. Buss (Ed.), Handbook of evolutionary psychology (pp. 344–371). New York:
Wiley, 2005.

- HYMAN, H. H., The Psychology of Status. New York: Columbia
University, 1942.

- LENS, Inge, Karolien Driesmans, Mario Pandelaere, Kim Janssens, Would male conspicuous consumption capture the female eye? Menstrual cycle effects on women's attention to status products, Journal of Experimental Social Psychology, 2011.

- MILLER, G.; Spent. Sex, Evolution, and Consumer Behavior. New
York: Viking Penguin; 2009
- SAAD, G.; The Evolutionary Bases of Consumption. Mahwah, NJ:
Erlbaum; 2007.

- NELISSEN, Rob M.A., Marijn H.C. Meijers, Social benefits of luxury brands as costly signals of wealth and status, Evolution and Human Behavior, 32, 343–355, 2011.

- VEBLEN, Thorstein B. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico
das instituições. São Paulo: Pioneira, 1965. (1. ed. 1899) 


Comentários (15)

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Parabéns pelo artigo primeiramente, vê-se claramente a proeminência de um prospero pesquisador....
Como já ressaltado em seu artigo esta necessidade de parecer e talvez não ser é algo bão só social como biológico...por exemplo como citou no caso das mulheres em período de ovulação o corpo delas muda como os seios que ficam mais atraentes para nós machos, acreditarmos que aquela fêmea é a ideal para a cópula ou ao menos instintivamente olhamos com mais libido....a roupa efetivamente sempre foi um fator de distinção social até em sociedades guerreiras como a japonesa determinadas proteções de suas armaduras eram exclusivas para as mais altas patentes, assim como na sociedade grega na qual cada homem livre era obrigado a manter sua armadura, cavalos e armas os mais ricos eram hóplitas, soldados pesados com armaduras de metal, escudo redondo largo, lança e espada já os menso abastados só poderiam ser peltastes, infantaria leve com dardos pequenos de combate a distância e praticamente desprovidos de proteção...a roupa é sim um fator de distinção social seja em qual sociedade for...mesmo que por vezes esta distinção denota mais uma diferenciação social não necessariamente hierarquica...até queria escrever mais, contudo perdi o pensamento quando sai da sala então é isso mesmo parabéns pela inciativa do blog
A única coisa espantosa deste "artigo" é a ausência de qualquer referência a Thorstein Veblen, e especificamente ao seu primeiro livro The Theory of the Leisure Class, 1899. É absolutamente incompreensível esta lacuna; qualquer intelectual sério sabe que a "origem" e as explicações acima encontram-se, claramente, neste e em outros trabalhos de Veblen.
1 resposta · ativo 701 semanas atrás
Realmente foi uma falha eu não ter feito a referência a Veblen, ainda mais, sendo eu um fã de seu trabalho. Inclusive, o primeiro contato que tive com esse estudioso foi nas suas aulas de Economia para o primeiro período de psicologia da UFRJ!!

Porém, como vc mesmo escreveu, trata-se aqui de um "artigo", então certos rigores acadêmicos acho que passam despercebidos do público leigo, e de mim também. Eu não daria tanta ênfase a essa falha, já que o significado está intacto. Inclusive, eu até usei o termo usado pelo próprio Veblen: consumo conspícuo.
Bom, não sei se sou um intelectual sério, mas eu sabia sobre a origem do conceito, só não coloquei a referência, o que, sim, é uma falha, porém, não tão grande, acho eu.

Mas valeu a crítica...ficarei mais atento.
Prezado Nerdworking ... fico feliz em saber que as mensagens de Veblen foram tão bem compreendidas, pois o artigo está muito bom ... Quando eu falei "intelectuais sérios", eu não estava fazendo uma crítica específica à matéria ou ao autor desta matéria ... Eu estava querendo dizer que alguns dos autores citados (o Lens, Hyman, o de Waal, ...) certamente sabem desta "vinculação temática" com Veblen. E vc mesmo me indicou um livro que eu não conhecia e vou tentar comprar. Em suma, a matéria está muito boa, e tanto é assim que na minha aula de hoje no IE-UFRJ eu disse que iria remeter para a turma. um abraço Murillo
1 resposta · ativo 701 semanas atrás
Entendi. Bom, de qualquer forma o seu comentário fez eu ficar mais alerta com relação às referências que eu coloco. Mas é que quando eu estava escrevendo o texto achei que como eu não ia falar exatamente sobre Veblen - somente sobre a relação de seu modelo institucional com a biologia, seleção natural e etc - não precisava fazer referência à sua obra clássica. Mas fez sentido e eu acrescentei a referência.

Que bom então que o senhor gostou do texto. Espero que seus alunos também achem interessante. E obrigado por me citar como referência. Espero que possa apreciar alguns outros textos bem legais que tem a ver com o tema (não consumo conspícuo, mas evolução e comportamento). Inclusive, separei mais alguns artigos aqui sobre consumo conspícuo e em breve vou lê-los e escrever mais sobre o assunto. Entrei no seu Google Site e vi que tem interessantes artigos lá. Em breve lerei.

Um abraço!
"A tarefa foi dividida em duas etapas: primeiro usou uma blusa verde e lisa, e depois, a mesma blusa, porém, com um logo de uma marca bem conceituada. Os resultados mostraram que a coleta realizada com a blusa com a logo foi mais bem sucedida."

Aconteceu recentemente de eu ser abordado por um homem vestido com calça e camisa sociais, alto, com um celular na mão e falando inglês. Ele, estrangeiro, pedia algum dinheiro para que pudesse colocar crédito em seu telefone e, sem seguida, ligar para sua família, que estaria em São Paulo. Fiquei desconfiado e acabei não dando dinheiro algum. Contudo, presumivelmente pessoas um pouco menos céticas o teriam ajudado; seu jeito de falar e de se vestir, bem como sua nacionalidade estrangeira, nos convida a uma boa ação. Mas aconteceu que, na semana seguinte, o mesmo homem estava pedindo dinheiro a outras pessoas. Pronto: tratava-se mesmo de um golpe, e um golpe bem formulado! Passaram alguns dias, e lá estava o mesmo homem novamente, a enganar com uma estratégia ousada e inteligente.

No mais, excelente texto! Acho que, hoje em dia, nenhum acadêmico duvida que a seleção natural tenha atuado de forma a facilitar o desenvolvimento e a emissão de certos comportamentos. Contudo, ainda há muito o que se esclarecer. Por exemplo, fico em dúvida de como um cérebro deve ser preparado para detectar esses sinais ou a relação daqueles sinais com certas características invisíveis de um indivíduo. Obviamente, não nascemos programados para atentar e dar mais valor para indivíduos que usam marcas como a Nike ou a Oakley. Precisamos aprender a fazê-lo. A suscetibilidade a esse tipo de aprendizagem parece, em muitos casos, o xis da questão. Um cérebro com capacidade de RELACIONAR certos símbolos com condições financeiras, p. ex., seria algo mais plausível. Comida, sexo, abrigo e conforto são coisas a que temos necessidade, e um cérebro capaz de relacioná-los com as condições que os fornecem ou a sinais que os sinalizam indiretamente teriam sido favoráveis à sobrevivência. Mas deve haver muitos outros elementos no meio dessa teia de relações adaptativas...
1 resposta · ativo 688 semanas atrás
Essa variável que vc destacou é importante, Daniel. Aliás, o estudo que serviu de principal base pra esse post fez uma ressalva: seria preciso, futuramente, fazer uma pesquisa em que os voluntários da pesquisa que carregavam a camisa de marca, colocassem algum acessório de marca mas que não soubessem se o que estavam usando era ou não de marca. A idéia é que o fato de vc estar usando algo que sabe que é admirado socialmente faz com que vc se sinta mais confiante na hora de abordar alguém e pedir algo como aconteceu nessa pesquisa. Seria um estudo interessante se analisassem a influência de bonés. Daí o voluntário não saberia se o boné era de marca ou não a não ser que se olhassem em um espelho ou tirasse o boné.

"Acho que, hoje em dia, nenhum acadêmico duvida que a seleção natural tenha atuado de forma a facilitar o desenvolvimento e a emissão de certos comportamentos."

Olha, eu tendo a duvidar dessa sua afirmação otimista hein. haha Na UFRJ tem um monte deles que duvidam. rs

"Obviamente, não nascemos programados para atentar e dar mais valor para indivíduos que usam marcas como a Nike ou a Oakley. "

Ahan. Eu acho que nosso cérebro está preparado para reconhecer símbolos cujo significado manifesta o excesso de recursos. E se for isso mesmo, provavelmente é uma herança ancestral, já que outros animais possuem mecanismos semelhantes de reconhecimento de recursos num indivíduo, como no exemplo do pavão.
Felipe,

Verdade: há quem discorde ou duvide ainda dessas influências genéticas sobre o comportamento. Talvez eu devesse falar de acadêmicos sérios, envolvidos com a ciência em geral. Mas temo que ainda assim poderia haver muitas exceções.

O controle que você falou sobre usar um boné sem saber se é "de marca" poderia ser útil, é verdade.

Mas antes de o cérebro poder "reconhecer símbolos cujo significado manifesta excesso de recursos", talvez fossem necessários mecanismos que permitissem a aprendizagem disso. O caso do pavão é intrigante, mas ainda assim precisamos ser cautelosos. A fêmea "sabe" que a cauda do macho anuncia genes bons ou ruins? Se não sabe, e se mesmo assim a cauda controla a preferência da fêmea, COMO isso acontece? Seriam características dos estímulos visuais, como cor, tamanho e brilho? Isso poderia, p. ex., controlar a liberação de neurotransmissores em sítios que controlam o comportamento sexual? Haveria outros estímulos complementares, como o cheiro? Ou haveria fatores mais complexos ainda, por exemplo pavões com caudas maiores seriam mais fortes e acabariam inibindo a aproximação de pavões com caudas menores em relação às fêmeas? Ou, ainda, pavões mais fortes, que têm caudas maiores, seriam mais aptos em dominar fêmeas? Eu ficaria mais satisfeito se esses detalhes fossem descobertos. Acho que ainda estamos apenas rastejando no que se trata dos produtos comportamentais da filogênese... Mas não duvido que eles existem!
1 resposta · ativo 687 semanas atrás
"A fêmea "sabe" que a cauda do macho anuncia genes bons ou ruins?"

Não é que ela saiba disso, mas é que por algum motivo ela sente atração pela cauda do macho, do mesmo jeito que uma mulher sente atração por homens com os ombros largos sem saber especificamente o porquê disso racionalmente. Como vc disse, pode ser a cor, o cheiro, o tamanho...(em relação ao pavão)

Olha, eu não acho que pavões levem vantagem de acordo com o tamanho de suas caudas, frente a outros machos. Acho que a cauda aí conta especificamente como um fator de seleção para as fêmeas, mas entre as disputas entre os machos talvez não tenha nenhum valor a cauda. A não ser que os machos também sejam programados de alguma forma para entender que os machos com caudas maiores, mais belas e tal, são mais fortes que os outros de algum modo.

Mas é...essas suas perguntas são muito válidas e seria magnífico se houvessem pesquisas que lançassem luz sobre elas. Se descobrir alguma coisa ae me fala.
Ótimo, Felipe! Sabendo, te informo! E mais uma vez, parabéns pelo texto!

Abraço.
1 resposta · ativo 687 semanas atrás
Olá, Felipe! Muito legal o seu artigo. Ele me foi recomendado pelo Prof. Rafael Vera Cruz de Carvalho, da UERJ, já que tenho interesse nessa junção entre Psicologia Evolucionista e Consumismo, tema que tratei em um trabalho de conclusão de curso de pós-graduçnao em Comunicação Social. O Prof. Rafael também citou que você fez o curso de Introdução à Psicologia Evolucionista, pelo qual tenho interesse, e eu gostaria de saber se você tem alguma consideração a respeito. No mais, coloco-me a disposição para trocarmos figurinhas sobre o assunto. Abs.
3 respostas · ativo 638 semanas atrás
Olá, Alexandre!
Ah, claro! O Rafael é uma ótima pessoa e um ótimo professor. Fico feliz que ele tenha indicado meu artigo e que vc tenha entrado pra ver :D

Então, eu adoro psicologia evolucionista, me interesso por quase todos os temas que ela trata. E acho especialmente instigante esse tipo de interação, entre o biológico e cultural, como em evolução e consumo.

Eu recomendo muito esse curso de introdução. Ele é bem amplo, apesar de ser uma introdução, as aulas são interessantes e embasadas. Assim que abrir período de matrícula, matricule-se!

Sobre o que exatamente foi seu trabalho na pós?? COmente ae! Também fico à disposição para se vc quiser alguma dica de algum tema :)

Abraço!
Ei, Felipe! Sou graduado e atuo profissionalmente na área de Comunicação, o meu interesse pela Psicologia Evolucionista era apenas pessoal, inicialmente. Durante a especialização, vi no tema 'Consumismo' a oportunidade de juntar esses dois assuntos, o que rendeu o trabalho de conclusão do curso. Nele apresento a competitividade instintiva, fundamental em todo ser vivo, como um dos pilares do sucesso do Consumismo no nosso dia a dia. Recentemente, também escrevi um artigo, intitulado 'Paleontecnologia', para a primeira edição da revista Facta (www.facta.art.br). Neste, faço uma reflexão sobre a tensão gerada por nossa necessidade de adaptação constante ao ambiente social altamente instável em que vivemos; abordando o surgimento frenético de novas tecnologias que interferem diretamente em nosso dia a dia e, consequentemente, em nosso comportamento social. Posso lhe enviar por e-mail, caso tenha interesse em ler. Eu também ficaria grato em ter a opinião crítica de pessoas como você, ligadas mais diretamente ao assunto. Abs.
Eu já pensei sobre essas questões...e, de fato, percebo o quanto as tecnologias interferem no nosso comportamento no dia-a-dia mesmo, tanto em mim quanto em outros. Observar pessoas de diferentes gerações também é interessante para notar tais diferenças.

Queria que vc me enviasse por e-mail sim, Alexandre. Manda pra esse aqui: felipecarvalho.n@gmail.com

Abraço

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