"Assim, como todos vocês tiveram oportunidade de descobrir sozinhos, existem novos deuses crescendo nos Estados Unidos, apoiando-se em laços cada vez maiores de crenças: deuses de cartões de crédito e de autoestradas, de internets e de telefones, de rádios, de hospitais e de televisões, deuses de plástico, de bipe e de néon. Deuses orgulhosos, gordos e tolos, inchados por sua própria novidade e por sua própria importância.Eles sabem da nossa existência, tem medo de nós e nos odeiam - disse Odin. - Vocês estão se enganando se acreditam que não. Eles vão nos destruir, se puderem. É hora de a gente se agrupar. É hora de agir."
Tradicionalmente, o Natal é uma festa muito mais antiga do que o próprio Cristianismo. Essencialmente, é a comemoração do Solstício de Inverno, que ocorre na Europa e é celebrado dia 25 de dezembro, de acordo com o calendário romano. Com a conversão de Roma ao Cristianismo e criação da Igreja Católica nas primeiras décadas dos anos 300 d.C., a data deixou de celebrar o nascimento de Mitra (o deus solar que simbolizava o Solstício), dando lugar à Jesus Cristo, outro deus solar.
Hoje, vivemos num país de maioria cristã, mas não podemos
dizer que na prática o que celebramos é o nascimento de Cristo. Aliás, creio
que isso ocorra no mundo inteiro. Parece que o grande alvo de “orações” e “preces”
seja o Papai Noel, os presentes, a árvore de Natal e os pisca-piscas.
No momento, estou lendo um livro chamado Deuses Americanos,
de Neil Gaiman, que, de forma bem resumida, trata-se de uma aventura misteriosa
na qual os deuses da Velha Ordem (Odin, Thor, deuses de tribos indígenas
americanas, Ibis, Hórus e etc) estão esquecidos num mundo que não os adora
mais. No entanto, não vivemos numa época sem deuses, eles só foram substituídos
pelas divindades do mp3, do computador, do consumo e etc. É como se a mente
humana criasse os deuses no momento em que começassem a venerar algo. Desse
modo, assim como os deuses dos primeiros habitantes das américas, os indígenas,
foram substituídos pelo deus judaico cristão, este e qualquer outro da Velha
Ordem foram substituídos pelos mais novos.
Este é só um livro, mas ele toca simbolicamente em algo
realmente atual, e que o momento do Natal parece deixar mais claro ainda, de
forma que o enredo da obra poderia ser Javé, Jesus e Maria (e o Espírito Santo
talvez) às traças enquanto os deuses das tecnologias, do consumo, da
superficialidade, velocidade, da árvore de Natal e dos presentes emergissem
poderosos.
Então, eu diria que é sempre bom refletirmos se a adoração
vidrada a algo – um deus, uma prática ou um objeto – é algo saudável e
pertinente, afinal, não é só com os rituais religiosos e divindades que temos
de “nos preocupar” , se abster desses não garante liberdade de pensamento,
necessariamente – ouviram, ateus? (haha).