Autonomia do paciente:
o que parece uma coisa boa,
mas na verdade é uma
transferência de responsabilidade de decisão
entre quem sabe alguma
coisa – o médico – para alguém que
não sabe nada, pode
estar doente e não estar na
melhor condição de tomar decisões – o paciente.
O video do Barry Schwartz é para todo
aquele que já se sentiu perdido ao chegar no MacDonald’s e ficou perdido na
fila do caixa enquanto olhava para todos aqueles sanduíches, tentando decidir
qual o melhor deles. Ou então, para aquele que vai numa loja de roupas comprar
uma calça jeans e tem um choque
quando chega e não encontra uma calça
jeans, mas uma enorme variedade delas
ao ponto de não sabermos qual a que melhor supre nossas necessidades – isso quando
as tais necessidades na verdade em sua maior parte não são luxos criados pela
sociedade capitalista.
Esse assunto toca em muitos pontos
fundamentais e profundos em nossa sociedade, como a questão da liberdade
individual. Por exemplo, ao irmos em um médico, não temos obrigação de tomar a
medicação que ele nos receita. O que ele mesmo nos dá é um belo dilema nos
oferecendo os prós e contras de uma série de caminhos a ser tomados. Como
podemos enxergar alguma coisa nesse ambiente bagunçado por vários caminhos teóricos
embaralhados na nossa frente? Se ele é o especialista, como eu vou saber se é
melhor tomar ou não o medicamento?
Eu achei especialmente intrigante uma
frase do pesquisador, no video, essa que está no cabeçalho do texto. Ela sugere
que a passagem da responsabilidade de se engajar no tratamento, conforme a
indicação do médico, é uma questão de escolha do paciente, isto é, a
responsabilidade é inteiramente dele. Não existe nada que o obrigue a tomar
decisões a não ser sua própria consciência. O problema é que estamos jogando
nas mãos de pessoas que sabem muito pouco, um dilema que só pode ser resolvido
da melhor maneira por um médico, que é quem obviamente sabe mais sobre a
condição de saúde do paciente. No entanto, nos cheira antiética a opinião de
que o paciente não deve ter autonomia sobre seu “direito” de permanecer doente,
digamos [por que diabos alguém iria optar por continuar doente mesmo?].
Recentemente, li um manifesto da
Professora Suzana Herculano no facebook, acompanhado de dois links sobre a
legalização da maconha e suas implicações negativas para a saúde (post no blog dela e na sua coluna da Folha). Ela alegava
que sim, a maconha traz muitos prejuízos à nossa saúde, mas o Estado não
deveria proibir seu uso, afinal, as pessoas devem escolher não usar o
entorpecente e não serem obrigadas a tal. Eu sempre pensei no Estado como um
regulador das relações humanas, protetor da economia e etc, portanto, faria
parte de suas funções sim, proteger as pessoas de suas próprias más decisões –
até porque não somos tão racionais quanto pensamos, na hora de tomar decisões.
Entretanto, confesso não estar muito
seguro dessa opinião, mas ela pode estar certa. Mas mesmo assim, a questão que
quero expor é que nem sempre ter a “liberdade de escolha” nos leva à
felicidade, ou ao bem-estar, ou à tranquilidade. Muitas vezes isso nos produz
angústia e aflição? Afinal, se temos 100 caminhos a serem seguidos, para cada
um que escolhermos, poderemos pensar o quão melhor os outros 99 são. E, havemos
de convir, ninguém consegue pesar honestamente os prós e contras de tantas
opções.
Portanto, a questão é: no caso das
drogas, por exemplo, o quão benéfico realmente é para o indivíduo ter a
liberdade de escolha de continuar se drogando ou não? Entre as considerações a
serem feitas, parece que quanto mais sabemos sobre o assunto, mais podemos
defender um sim ou um não. Os relativistas arrumarão um jeito
de dizer que a proibição de algumas drogas é arbitrária, que cada um tem seu
conceito de felicidade e que a decisão deve caber ao indivíduo, sem ter pitacos
“técnicos” e de autoridades. Por outro lado, sabemos que experimentar ao menos
uma vez uma droga é um custo alto demais, porque depois da primeira, vem a
segunda, a terceira e a quarta. Enfim...parece que toda essa pluralidade mais
tem prejudicado, atrapalhado ou nos deixado no mesmo patamar de quando sabíamos
pouco.
1 comentários:
Sabe q mesmo muito bem argumentado, continuo achando q mesmo sendo uma má escolha, a questão da liberação de certas drogas, a liberdade deve ser a norma. No caso do especialista e do paciente eu concordo q a autoridade deve ser pontual e precisa na orientação do tratamento. Voltando às drogas, acho q a proibição não barra o uso, uma vez q na necessidade escapista as barreiras tornam-se agregados de emoção ao ato de se autodestruir, mas se há a liberdade e a possibilidade do uso às claras, problemas com compulsão do vício podem ser encaradas socialmente de maneira mais tranquila e não do modo recriminatório que atualmente acontece. Pq aí o sujeito tem dois problemas: o vício e a marginalização social do indivíduo já em sofrimento. Mas a opinião ainda não eh fechada, talvez não esteja tão seguro se isso realmente faça algum sentido prático.
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