É fato que vivemos num país católico - apesar de os protestantes estarem rivalizando bastante nos últimos anos - apesar de oficialmente ele ser laico. Pensando nisso, podemos recordar das últimas eleições presidenciais, principalmente, em que opiniões religiosas e diversos tipos de crença interferiram no debate político. Aliás, não só no político em si, mas também na avaliação do público sobre o carater e competência dos candidatos. Hoje isso não é mais surpresa, já que projetos políticos que trazem a relação entre religião e Estado pipocam cada vez mais. Recentemente por acaso vi uma notícia pavorosa mostrando que os religiosos desconfiam dos ateus tanto quanto desconfiariam de um estuprador. Isso mostra o quão contaminado pela visão de que religião tem estreita relação com caráter, o nosso povo está. Talvez isso seja global - e acho que provavelmente é -, como uma herança dos tempos em que o homem não conseguia olhar para si e para o mundo fora das lentes mitológicas e religiosas, o que o levava a naturalmente relacionar a maioria dos aspectos da vida como estando intimamente ligado à religião. De qualquer forma, creio que seja a hora de enxergarmos esse elefante na sala, e ter crenças religiosas sim, se for o caso, mas não deixar que elas interfiram em esferas que não deveriam, e que a História já nos mostrou estarem fadadas ao desastre.
Reproduzo abaixo o texto do meu amigo Mário, postado no site dos Livres Pensadores (do qual faço parte, inclusive), e que mostra de uma maneira muito clara grande parte das minhas opiniões.
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Reproduzo abaixo o texto do meu amigo Mário, postado no site dos Livres Pensadores (do qual faço parte, inclusive), e que mostra de uma maneira muito clara grande parte das minhas opiniões.
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Antes de mais nada, quero deixar claro
que este não é um “texto resposta”, por mais que hajam textos com
títulos semelhantes por aí. Este é apenas o resultado de uma reflexão
que venho fazendo, depois deste primeiro ano de Livres Pensadores.
Como todos devem saber, ontem o Livres
Pensadores fez um ano. O site tem feito bastante sucesso e fico
extremamente feliz com isto. Até mesmo já começamos a criação da Organização Livres Pensadores,
que é a organização que cuidará dele e das demais ações que pretendemos
fazer. Contudo, não é sobre isto que desejo escrever hoje.
A questão é: e daí que sou ateu? O que isto diz sobre mim? Ao contrário do que muitos possam pensar o querer, não diz muita coisa além de nossa ausência de crenças no sobrenatural. Não diz absolutamente nada sobre nosso caráter.
Ao acrescentar que sou um livre
pensador, diz algo a mais sobre mim: que tiro minhas conclusões a partir
da ciência, da lógica e da razão, sem influencia alguma de tradição,
autoridade ou dogma (não importando se religioso ou ideológico). Continua não dizendo absolutamente nada sobre meu caráter.
Se eu dissesse que sou humanista secular
(o que não é meu caso), isto diria algo a mais sobre mim: que o foco de
minha visão é no humano, na busca de soluções e respostas para as
questões mais importantes da humanidade, etc. Quer dizer, que me foco
realmente no indivíduo e na humanidade em geral. Continua não dizendo nada sobre meu caráter.
Da mesma forma, se eu dissesse que sou
teísta (o que, óbvio, também não é meu caso), não importando a religião
que eu professe, isto dirá algo a meu respeito: dirá que eu tenho
determinadas crenças, que creio em determinadas “entidades
sobrenaturais”. Mas, novamente, continua não dizendo nada sobre meu caráter.
O que quero dizer é que existem pessoas
boas e más em toda parte, sejam elas religiosas ou não, ateias ou não.
Isto não importa. No ateísmo já conheci pessoas fantásticas, nem as
citarei nominalmente, pois são muitas e correria o
risco de ser injusto com alguém. Mas já conheci pessoas péssimas também.
Pessoas com caráter horrível, capazes de qualquer coisa e que se
amoldam ao grupo ao qual pertençam, não importando qual seja. Da mesma
forma, não vou citar nomes, porque, infelizmente, também são muitas e
esqueceria de citar alguém.
Da mesma forma, já conheci pessoas
crentes fantásticas e péssimas. Em outras palavras, a crença ou a falta
dela não diz muita coisa sobre nossos caracteres. Diz apenas
com relação a isto mesmo: crenças ou falta delas. O mesmo se aplica a
ideologias e/ou visões de mundo, sejam filosóficas ou não.
Das religiões em si, não posso dizer o
mesmo. Nunca encontrei coisas boas vindas das religiões, que não
poderiam ter vindo de pessoas com ausência de crenças. Absolutamente
nada. Por isto sempre falo em “destruir as religiões”, ainda assim a
expressão é sempre muito mal entendida: não se trata de fazer com que
não existam mais crenças no sobrenatural, ou que não existam mais
“organizações da fé” (igrejas, religiões mesmo). Trata-se apenas de
remover todo o resquício de poder que elas têm e que exercem ao
manipular as pessoas.
Se as pessoas passarem a pensar por si
mesmas, não importa se elas ouvirem o que religiões têm a dizer: elas
não seguirão cegamente a seus discursos. Afinal, lembre-se: para ser
cientista a pessoa tem de estudar por anos a fio (na verdade, estuda por
sua vida toda), já para ser clérigo… Qualquer homofóbico,
preconceituoso, irracional e/ou estúpido consegue.
Portanto, acho que devemos sim nos
orgulhar do que somos, sejamos ateus, crentes, heterossexuais, LGBTs,
palmeirenses, corinthianos, vascaínos, o que for. Mas, antes de tudo,
devemos nos lembrar que somos seres humanos: tão falíveis, mortais,
corruptíveis e capazes de erros como quaisquer outros.
Assim, até mesmo para combater
preconceitos, acho que devemos nos orgulhar de sermos seres humanos. Mas
devemos nos focar mais em nossas conquistas, erros e falhas, para que
possamos aprender com eles e tentar criar uma sociedade melhor no
futuro. Ou isto, ou nosso futuro será bastante feio. E é por isto mesmo que continuo na militância, para tentar jogar um pouco de luz sobre a cabeça das pessoas.
Este texto pode soar estranho, ainda
mais vindo de mim. Mas é apenas uma reflexão sobre tudo o que tenho
observado neste último ano. Não estou deixando se ser militante, não me
converti para religião alguma. Apenas acho que ninguém, nem mesmo nós,
ateus, está acima de qualquer crítica. E a crítica é boa, pois nos faz
crescer.