sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Seja seu próprio terapeuta

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Veja aqui o link de um video muito interessante, em que uma monja da tradição budista tibetana fala sobre como o budismo pode nos ensinar a sermos nossos próprios terapeutas. Para quem conhece o básico do budismo, isso não é uma novidade, estando mais para um insight bem comum. 


Um dos fundamentos da prática budista é que há a impermanência, tudo é perene. E é verdade, pense em qualquer coisa: essa coisa é perene. Do prazer provocado pela degustação de um chocolate até o prazer da prática de um esporte ou de se estar com quem se ama. Todas essas coisas passam e podem dar lugar a momentos de tristeza e angústia. É algo cíclico. 
E aí entra uma das coisas mais complexas do budismo – e que deve existir em outras religiões também, apesar de os fiéis não verem – que é a insuficiência da racionalização. Compreender cognitivamente ou racionalmente o conceito da impermanência é uma tarefa relativamente fácil, mas ela não modifica muito a nossa postura diante da vida. É preciso que se sinta


Achou complicado? Pois é, e esse é só um dos fundamentos da prática. O segredo é moldar sua vida, a si mesmo, para que aceite a impermanência como algo tão inelutável quanto a gravidade. Não ficamos nos lamentando sobre a gravidade. Na verdade, na maioria das vezes, nem notamos que ela existe, justamente porque para nós é óbvio que ao serem jogadas para o alto, as coisas caem. Nem por isso deixamos de jogá-las ou viramos pessimistas natos. Além disso, estamos “imersos” na gravidade assim como estamos no sofrimento, nesse ciclo. Dessa forma, tomar consciência disso e sair do automatismo é bem útil. 


Outro ponto importante é que isso tem de ser aplicado ao “eu” também. Quem é você? Se formos investigar corajosamente essa questão, seremos conduzidos à conclusão de que aquilo que chamamos de eu nada mais é do que um conjunto de memórias e predisposições biológicas. A complexa rede que interliga isso tudo no final das contas gera o “eu”. 


A consequência desse pensamento é que quando começamos realmente a sentir essa idéia – que não é uma fé, mas é algo que se constata logicamente e através da experiência – as coisas começam a ficar bem mais leves. Lembro de um dia em que uma pessoa no meu trabalho foi um tanto rude comigo. Eu tinha tudo para me estressar, revidar e etc. Na hora comecei a sentir as reações fisiológicas típicas da raiva, bem como uma série de pensamentos e impulsos, mas na mesma hora vi que não adiantaria nada dar vazão àquilo. A ofensa já tinha sido dita, não dava pra voltar atrás. Caberia a mim não me deixar levar e acabar por ali, para o meu próprio bem, inclusive, pois a raiva acaba fazendo mais mal para quem sente do que para quem é alvo dela, muitas vezes. 
 

Dentro desse raciocínio, a pergunta a ser feita é “quem está se ofendendo?”. Claro, eu estou me ofendendo, mas quem sou eu? Porque isso que é chamado eu está se ofendendo? E assim vai, até que vemos que não vale a pena manter a emoção negativa. Ou melhor, ela naturalmente vai se dissipando. Claro, não é fácil fazer isso, se fosse, os filósofos gregos seriam excelentes dominadores das emoções, mas nessa quem levou o ouro foram os sábios indianos. Como eu disse lá em cima, é preciso que se sinta...a racionalização é só o início. (Leia sobre o Wu Wei, a técnica taoísta do redirecionamento das emoções)


Para não ficar a idéia de que quero dar uma de calmíssimo, equilíbrio em pessoa, devo destacar que mesmo quando já se subiu um degrau da escada, ainda existem alguns momentos em que é muito difícil manter essa linha de raciocínio mencionada. Existem gatilhos ambientais que estão tão emparelhados com determinadas respostas, que só com muito esforço e prática conseguimos desfazê-la. E com certeza, eu tenho muitos condicionamentos desse tipo.