Veja aqui o link de um video muito interessante, em que uma monja da
tradição budista tibetana fala sobre como o budismo pode nos ensinar a sermos
nossos próprios terapeutas. Para quem conhece o básico do budismo, isso não é
uma novidade, estando mais para um insight
bem comum.
Um dos fundamentos da prática budista é que há a impermanência, tudo é perene. E é
verdade, pense em qualquer coisa: essa coisa é perene. Do prazer provocado pela
degustação de um chocolate até o prazer da prática de um esporte ou de se estar
com quem se ama. Todas essas coisas passam e podem dar lugar a momentos de
tristeza e angústia. É algo cíclico.
E aí entra uma das coisas mais complexas do budismo – e que
deve existir em outras religiões também, apesar de os fiéis não verem – que é a
insuficiência da racionalização. Compreender cognitivamente ou racionalmente o
conceito da impermanência é uma tarefa relativamente fácil, mas ela não
modifica muito a nossa postura diante da vida. É preciso que se sinta.
Achou complicado? Pois é, e esse é só um dos fundamentos da
prática. O segredo é moldar sua vida, a si mesmo, para que aceite a impermanência
como algo tão inelutável quanto a gravidade. Não ficamos nos lamentando sobre a
gravidade. Na verdade, na maioria das vezes, nem notamos que ela existe,
justamente porque para nós é óbvio que ao serem jogadas para o alto, as coisas
caem. Nem por isso deixamos de jogá-las ou viramos pessimistas natos. Além
disso, estamos “imersos” na gravidade assim como estamos no sofrimento, nesse
ciclo. Dessa forma, tomar consciência disso e sair do automatismo é bem útil.
Outro ponto importante é que isso tem de ser aplicado ao
“eu” também. Quem é você? Se formos investigar corajosamente essa questão,
seremos conduzidos à conclusão de que aquilo que chamamos de eu nada mais é do
que um conjunto de memórias e predisposições biológicas. A complexa rede que
interliga isso tudo no final das contas gera o “eu”.
A consequência desse pensamento é que quando começamos
realmente a sentir essa idéia – que não é uma fé, mas é algo que se constata
logicamente e através da experiência – as coisas começam a ficar bem mais
leves. Lembro de um dia em que uma pessoa no meu trabalho foi um tanto rude
comigo. Eu tinha tudo para me estressar, revidar e etc. Na hora comecei a
sentir as reações fisiológicas típicas da raiva, bem como uma série de
pensamentos e impulsos, mas na mesma hora vi que não adiantaria nada dar vazão
àquilo. A ofensa já tinha sido dita, não dava pra voltar atrás. Caberia a mim
não me deixar levar e acabar por ali, para o meu próprio bem, inclusive, pois a
raiva acaba fazendo mais mal para quem sente do que para quem é alvo dela,
muitas vezes.
Dentro desse raciocínio, a pergunta a ser feita é “quem está
se ofendendo?”. Claro, eu estou me ofendendo, mas quem sou eu? Porque isso que
é chamado eu está se ofendendo? E assim vai, até que vemos que não vale a pena
manter a emoção negativa. Ou melhor, ela naturalmente vai se dissipando. Claro,
não é fácil fazer isso, se fosse, os filósofos gregos seriam excelentes
dominadores das emoções, mas nessa quem levou o ouro foram os sábios indianos.
Como eu disse lá em cima, é preciso que se sinta...a racionalização é só o
início. (Leia sobre o Wu Wei, a técnica taoísta do redirecionamento das emoções)
Para não ficar a idéia de que quero dar uma de calmíssimo,
equilíbrio em pessoa, devo destacar que mesmo quando já se subiu um degrau da
escada, ainda existem alguns momentos em que é muito difícil manter essa linha
de raciocínio mencionada. Existem gatilhos ambientais que estão tão emparelhados
com determinadas respostas, que só com muito esforço e prática conseguimos
desfazê-la. E com certeza, eu tenho muitos condicionamentos desse tipo.