Em resumo fazer zazen é
parar de fazer tudo,
ficar de frente para a
parede e sentar,
sendo apenas você mesmo
que é somente o self, o eu, o si mesmo – Daissen
O zen-budismo não é uma religião, tão pouco uma filosofia – ao menos
não no estilo grego que conhecemos. Como li certa vez num post no blog do monge Gensho, trata-se de um pragmatismo
dialético psicológico. E como tudo vindo do Oriente, é misterioso à
primeira vista. Um de seus pressupostos mais intrigantes é o de que para vermos
as coisas como são, devemos abdicar da dualidade constante que caracteriza
nossas vidas – bom e ruim, escuro e claro, chato e legal, difícil e fácil –
permeadas pela linguagem.
No estudo feito por Giuseppe Pagnoni e colegas, foram
recrutados 12 meditadores profissionais, que tinham no mínimo 3 anos de experiência na prática diária da
meditação Zen, o zazen, e 12 que nunca tinham
praticado meditação. A estes, foi dito que deveriam se concentrar em sua
respiração, e sempre que pensamentos ou memórias viessem à tona, voltassem o
mais rápido possível a se focar na respiração. Isso descartou a possível
crítica de que os indivíduos da condição controle estivessem na verdade
“descansando” e não tentando meditar. Os participantes estariam dentro de uma
máquina de fMRI e seriam apresentadas várias palavras, algumas sendo somente
arranjos aleatórios de letras, outras, palavras da língua inglesa realmente.
Eles deveriam responder, apertando um botão, qual das duas situações era. Isso
feito, deveriam retornar sua atenção para a respiração (Leia aqui sobre o que é meditação num sentido geral).
O nosso cérebro parece ter uma taxa de ativação de
pensamentos, que é padrão, ou seja, mesmo quando estamos quietos, pensamentos e
memórias surgem naturalmente. Os
resultados do estudo mostraram que os participantes que meditavam já por um
longo tempo, tinham uma atividade menor nas regiões relacionadas a esse
fenômeno, depois de classificarem as palavras do teste. Os autores do estudo
destacaram que a pequena região mais envolvida no processamento semântico, o
giro angular, se ativou muito pouco, comparando com o grupo controle, depois da
apresentação do estímulo. Em relação à velocidade das classificações ou
quantidade de erros, os dois grupos não diferiram.
Os resultados parecem falar por si mesmos, isto é, revelam
que o Zen é uma prática que obtém sucesso em promover a ausência de pensamento,
pelo menos no sentido de que memórias, indagações e especulações sobre o futuro
não formam um turbilhão capaz de nos levar a devanear descontroladamente. Isso
talvez soe estranho aos olhos da civilização ocidental, mas no Oriente é muito
coerente pois, para eles, a mente é sinônimo de atividade mental, de
pensamento. Se não há pensamento, não há mente.
Além de representar um alívio para nossa consciência, esse
tipo de meditação acaba nos proporcionando um belo extintor de problemas. A
maior parte de nossos conflitos são proporcionados pela ansiedade, que é o
pensar constante em coisas que ainda não aconteceram. É algo que vai além da
mera expectativa, pois a pessoa é acometida de um mal-estar bem intenso quando
está ansiosa. Do mesmo modo, remoer memórias ruins não é algo proveitoso,
afinal, os problemas já se foram. Claro, não precisamos anestesiar nossa mente
e nunca mais nos direcionarmos ao passado nem ao futuro. Não. O que devemos desenvolver é o senso de
realidade grande o suficiente para pensarmos nessas coisas e não sofrermos por
elas em vão, para devanearmos mas conseguirmos interromper o processo
calmamente.
Referência
Pagnoni G, Cekic M, Guo Y (2008) ‘‘Thinking
about Not-Thinking’’: Neural Correlates of Conceptual Processing during Zen
Meditation. PLoS ONE 3(9): e3083. doi:10.1371/journal.pone.0003083