Todos deveriam assistir a este Uma Lição de Discriminação. Principalmente
porque vivemos num mundo de pessoas preconceituosas [por mais que muito disso seja mimimi]. Também vivemos numa época
em que explicações que vão além da história de determinado tipo de
discriminação, são consideradas reforçadores destes. Por exemplo, o que seria
dito se argumentassem que o comportamento preconceituoso faz parte da natureza humana?
Com certeza, para um aluno brasileiro de psicologia, no
geral, isso seria um ultraje equivalente a dizer que negros são menos
inteligentes que brancos. E falo isso por experiência própria. Tendemos a
achar que algo errado, como a discriminação contra qualquer um, seja algo tão
mal que a mera tentativa de explicar isso serviria para, na verdade,
justificá-la. E a coisa só pioraria pelo emprego do termo “natureza humana”,
que de tanto ser usado levianamente, hoje toda a área de Humanas olha com
desconfiança [raiva] para o conceito. Tenho certeza, também, que muitos dos
meus colegas estudantes de psicologia e psicólogos podem olhar para o vídeo e
se ver irrompendo num ato torrencial de críticas sobre a ética envolvida no
experimento, e não nas reflexões suscitadas pelo estudo em si.
O documentário Uma Lição de Discriminação se passa na
França, num colégio com crianças bem novas (3º ano, seja lá o que isso
signifique para nós). A professora, com a autorização da direção da escola, executa
um interessante experimento. Ela separa os aluninhos em dois grupos: o de
alunos mais altos, que usavam um colete, e outro, de alunos mais baixos, sem
colete. Ela informava que as pessoas mais altas eram menos inteligentes que as
mais baixas.
A partir dessa simples informação, os alunos mais altos se
sentiram naturalmente rebaixados, e os mais baixos passaram a tratá-los mal,
discriminando-os, dizendo “Ah ele é alto” em tom de xingamento. Foi
interessante que quando eram chamados para executar lições no quadro negro, os
mais baixos eram sempre agraciados pela professora, que os elogiava, ao passo
que os alunos mais altos tinham qualquer mínimo deslize justificado pelo fato
de serem altos. Vejamos: nesse estudo informal, não foram utilizadas características
físicas clássicas em termos de discriminação. A altura pode até ser motivo de
uma brincadeirinha aqui e ali, mas convenhamos que seria algo bem mais
historicamente condicionado utilizar cor de pele ou gênero, por exemplo. Acho
que foi mostrado, portanto, que o histórico de discriminação é uma condição suficientepara que haja o preconceito, mas não é algo necessário.
Outro ponto muito interessante no qual tocaram, querendo ou
não, foi a questão do potencial humano relacionado ao bem ou ao mal. Teríamos o
potencial para o altruísmo e para o egoísmo? Ou seríamos seres egoístas que as
instituições sociais tratam de moldar para o bem?
Num momento do vídeo, a professora anuncia os privilégios
que os baixos terão. Uma garotinha, chorosa, diz que não precisa de privilégios
[estava triste, pois seus amigos todos eram do grupo dos altos, com colete]. Em
outro trecho, no pátio, os baixos brincavam enquanto os altos, não. E um destes
estava choramingando encostado numa cerca, com outros amigos sem colete perto,
tentando reanimá-lo através de carinhos.
Desde pequenas essas pessoas naturalmente são capazes de
desempenhar os gestos de ambas as faixas do espectro altruísmo-egoísmo. Algumas
delas parecem sentir-se superiores aos outros, outras, se incomodam com essa
diferenciação descabida e protestam e apoiam os injustiçados, chegando ao ponto
de querer abdicar de seus poderes.
Por último, quero ressaltar que constatar que a
discriminação preconceituosa surge naturalmente em nós e m outros primatas, não
sugere que devamos aceitar isso. Só acrescenta mais cartas à mesa, nos dando
maiores condições de entender algo tão condenável e ter meios para lutar mais
eficazmente contra sua expressão.
Elaina · 602 semanas atrás
Felipe C Novaes 57p · 602 semanas atrás
É verdade...lá se fala francês né.
Lucas Vezedek · 584 semanas atrás
:)
Lucas · 584 semanas atrás