Erros de
português sempre incomodam, não adianta negar (como a irritante mania mais novade falar “reprovei” ao invés de “fui reprovado”). Claro, uns incomodam mais que outros, mas o que não consigo entender mesmo é
o motivo pelo qual algumas pessoas defendem o “direito” de se errar a língua
que falamos. Acredito que o objetivo oficial da chamada “variação linguística”
não seja esse, mas sim fazer os alunos vêem que o que hoje é chamado de português
formal ou norma culta da língua é algo convencionado ao longo da história de
determinado grupo social.
Além disso,
é difícil falar numa norma culta no
sentido de algo estático a ser seguido porque ela está sempre variando, a
língua é viva. No entanto, eu ainda me pergunto: será que ensinar isso para
crianças e adolescentes no colégio é produtivo?
Como eu disse
antes, um fato que todos que estudam a língua sabem é que ela está em constante
variação, mesmo que se tenha uma norma culta convencionada. Aliás, ela própria
é impermanente. Veja, por exemplo, que no passado escrevia-se “cousa”, e não
“coisa”. E hoje a segunda é que faz parte do idioma oficial. Ou seja, a
variação é natural e acontecerá de um jeito ou de outro, sempre.
Isso me faz
chegar até a questão da pertinência em falar de tais coisas no colégio. Já vi
algumas pessoas falarem coisas erradas e, ao serem corrigidas, dizerem que a
língua serve para promover a comunicação e, tendo isso feito, não precisamos
seguir perfeitamente nenhuma norma ditada “de cima” (fazendo referência à
elite, base do padrão oficial da língua sempre). Insistir em mais é uma questão
de preconceito e segregação, dizem esses opositores. Curiosamente, é justamente
esse o argumento que é passado para as pessoas não mais só na faculdade, mas no
colégio, para individuos que na maioria das vezes não tem maturidade nem para
fazer o dever de casa.
A minha idéia
– e meu temor – é que por ser um fenômeno natural, esse tipo de variação não
precisa ser ensinada nas escolas. Ela simplesmente acontecerá e todos serão
testemunhas, tanto para aquele que prefere falar um bom português quanto para o
que é desleixado e fala errado mesmo – ou não teve oportunidades de aprender o
correto. Essa tautologia acabará legitimando – na cabeça dos jovens e imaturos
– o hábito de não se importar em falar corretamente, afinal – dirão eles - , “não
preciso seguir um padrão imposto pela elite e, no final das contas, o que eu
falo é só uma variação da língua”.