Ler O Hobbit foi uma das mais inesperadas aventuras das quais já participei. Digo dessa forma pois é exatamente assim que o leitor se sente, tendo Bilbo como o personagem que vai conhecendo um mundo enorme e cheio de desafios, de coisas desconhecidas e perigosas - tão leigo quanto a Terra Média quanto nós.
Quem está familiarizado com A Jornada do Herói, de Joseph Campbell, sabe muito bem que Bilbo
Bolseiro é um herói, aquele que vivia uma vida pacata, comum e recebeu um
chamado à aventura. Em algumas histórias esse chamado aparece como sendo um
sonho estranho, uma visita inesperada como a de Gandalf ou mesmo um fruto de
reflexão pessoal mais apurada.
Assim como todos os leitores, o hobbit inicialmente resiste
a dar atenção àquilo tudo (um mago e um monte de anões invadindo sua residência
aconchegante e calma). É a pergunta que todos nos fazemos em situações
parecidas: “por que diabos vou sair daqui e correr riscos se posso ficar onde
estou? Em time que está ganhando não se mexe.”A última frase é verdadeira, de
fato; mas não é sempre. A vida necessita de movimento, pois só podemos crescer
saindo do lugar. Aliás, acho que a questão não é só o crescimento no sentido de
um avanço necessariamente para o melhor, mas o movimento em si; necessitamos
explorar coisas novas. Ter novas experiências, diga-se de passagem, não implica
necessariamente em embarcar numa viagem incerta com pessoas praticamente
desconhecidas. O que importa é essencialmente interior. É o quanto o processo
nos modifica, é o quanto as dificuldades concernentes a ele nos muda. Portanto,
essa viagem pode ser feita no sofá da sua casa, lendo um livro cujo o qual você
dizia para todos desde o Ensino Médio que nunca leria; continuando-a logo
depois, talvez, tentando escrever um texto por sua própria conta e risco, ou
abrindo aquele negócio que você sempre teve dinheiro seguro para iniciá-lo mas
sempre teve medo.
Continuando o percurso universal pelo qual Bilbo passara ao
encontro de si mesmo, percebemos que medos e a inseguranças são fortes no
sujeito. Entretanto, ele finalmente aceita a aventura. São muitos obstáculos, e algumas vezes ele se
lamenta e pensa que seria melhor estar no conforto do Condado, por vezes pensa
até em desistir. Mas conforme a superação vem, sua vontade aumenta
exponencialmente, tornando-se corajoso e respeitado entre os anões. Gandalf
também fica admirado, apesar de ter sido o único que desde antes de comunicar
algo ao Bolseiro, sabia de seu potencial.
Aliás, quando estamos falando de potencial, estamos nos
referindo a alguma coisa que não está revelada, mas que podemos descobrir; só
precisamos de um contexto adequado e de bastante coragem.
Daniel Gontijo · 584 semanas atrás
"... tentando escrever um texto por sua própria conta e risco". E vamos continuar (ou começar) nossa própria jornada, né?
Felipe C Novaes 57p · 584 semanas atrás
Sim! Vamos começar mais uma micro-jornada dentro da Jornada que é a vida bem vivida. :D