Se existe um assunto que está ficando batido, é o debate sobre se a orientação sexual é algo inato, parcialmente inato, ou totalmente moldado pelo meio. Cientistas sociais em geral são bem claros sobre essa questão. Para eles, não existe essa coisa de comportamento totalmente ou parcialmente inato. Nós somos uma tabula rasa. Nos anos 1980, uma reunião, a Conferência de Sevilla, [ou melhor, um complô contra as ciências naturais] definiu vários mandamentos das ciências sociais, que condenavam várias das pesquisas da biologia, genética, evolução e sociobiologia. Esses mandamentos giravam em torno do lema: qualquer pesquisa que afirme que existem comportamentos inatos deverá ser descartada por não ser científica. Nem é preciso ressaltar o quanto é dogmática essa atitude, para uma disciplina que se julga científica.
Pois bem, desde essa época pipocam a todo o momento artigos e entrevistas de sociólogos e psicólogos sociais alegando que somos uma folha de papel em branco. Mas é bem fácil de dar uma rasteira nesse tipo de argumento.
Só pra dar um corpo mais sólido ao texto, resolvi me basear numa entrevista cedida à Revista Veja por um sociólogo americano chamado John Gagnon, professor emérito da Universidade do Estado de Nova York. Ele pesquisa o assunto da sexualidade há 40 anos.
Veja agora alguns trechos da entrevista, seguidos por comentários meus.
ÉPOCA - Existe um impulso natural nos seres humanos para fazer sexo?”
GAGNON-“Não.[...] analisei como os atos sexuais são diferentes em épocas e lugares diversos [...]. As atividades sexuais são parecidas, mas as razões ou motivações que levam as pessoas a transar são diferentes.
Evidentemente os cientistas sociais tem uma birra com as áreas da biologia que estudam o comportamento. Mas muitas vezes, se pegarmos as frases de estudiosos das duas áreas, não botarmos referência de quem a escreveu e pedirmos para que alguém diga quem a proferiu, um cientista social ou um psicólogo evolucionista, por exemplo, nos confundiria tal tarefa, porque muitas vezes os dois concluem a mesma coisa. É o que acontece com a primeira resposta de Gagnon. Ora, é muito óbvio que as pessoas podem fazer sexo por motivos diferentes. Alguns fazem para conseguir uma promoção no trabalho, outros fazem para se sustentar, outros porque são casados e se amam...os motivos são muitos. Nesse ponto, todos concordam. Mas a pergunta que deve ser feita é: por que o sexo serve como moeda de troca em tantos casos e também serve para demonstrações de amor, relaxamento e etc? Gagnon deduziu que a variedade de motivos é um indicador de que o sexo é algo inventado socialmente e que não existe nada como um instinto para o sexo. Mas a pergunta acima é reveladora no sentido de que nos faz questionar se a relevância do sexo em TODAS as culturas é algo simplesmente acidental...por um acaso as pessoas gostam do sexo. Elas aprenderam a gostar. E aprenderam de forma tão perfeita que muitos pagam fortunas pelo sexo, matam e etc.
ÉPOCA - A orientação sexual é socialmente determinada?
GAGNON - Sim. Existem evidências de que a homossexualidade é construída socialmente. É uma capacidade aprendida, não algo com que se nasce.
Novamente o dogma sociológico. Mas Gagnon não apresenta nenhuma evidência do que fala. Claro que isso não significa que ele não tenha tais evidências [ou algo que ele acha que é uma evidência], mas isso só mostra que talvez ele esteja tão certo de suas conclusões, que nem se preocupa em mostrar dados sólidos, só a opinião dele já é suficiente.
ÉPOCA - A atração sexual também é socialmente aprendida?
GAGNON - É. [...] No começo do século XX, o que homens e mulheres achavam sexy era diferente do padrão de hoje. Tudo depende da cultura, do que a pessoa aprendeu que deve desejar.
Sem dúvida. O que as pessoas achavam sexy no passado, hoje virou cafona. Existe um documentário muitíssimo interessante, produzido pela BBC chamado Como a Arte Moldou o Mundo, que em algum momento dos 5 episódios, mostra os padrões sexuais que sempre existiram. Outro documentário que mostra isso é a Ciência do Sex Appeal, produzido pelo Discovery.
IMAGENS ANTIGAS DE OUTRAS CULTURAS, RETRATANDO A FERTILIDADE
Essas imagens mostram um padrão recorrente em relação ao corpo feminino ideal. Não, não estou falando do abdome de tanquinho da deusa Vênus nem das gordurinhas das outras esculturas. E sim um padrão entre a cintura e o quadril que permanece constante até hoje. E por que é tomado como referencial essas estátuas? Porque elas são as representações da fertilidade, respectivamente à época de cada uma. Os escultores retratam as mais belas formas tidas na sua época. Existem outros padrões em homens também, e ainda outros nas mulheres; quem quiser se aprofundar, é só ver os links. Portanto, existem sim muitos padrões relativos à época em relação à beleza, mas existem vários que persistem na história da espécie humana, em todas as culturas.
[...]Um homem que se diz gay não é homossexual apenas porque faz sexo com homens. Ser gay tem a ver com o comportamento com os amigos, a política etc. O gay é uma nova pessoa social. Há homens que só têm relações sexuais com homens, mas não se apresentam como gays porque não pensam como gays.
Ele não deixa de ter razão. Mas os sociólogos pecam em levar à sério demais a opinião de que ser gay tem a ver com o comportamento com amigos e política. Isso faz com que eles ignorem que o que define alguém como homossexual essencialmente é o fato de sentir atração pelo mesmo sexo! Mas não... Só o que importa é a posição política! Ora, tirando a posição política, que realmente é uma variável cultural e social, pessoas que tiveram atração pelo mesmo sexo sempre existiram! É só ver os filmes de Alexandre O Grande, por exemplo. O gregos tinham até um lema bem sugestivo: “Uma mulher para procriar e um homem para amar.”
As idéias principais contra essa postura 100% relativista já foram abordadas, e deixo o resto da entrevista indicado no link lá em cima, pra quem tiver curiosidade e quiser ler integralmente. Quem quiser contestar minhas idéias, fique à vontade.