sábado, 28 de agosto de 2010

A Lei do Eterno Retorno

+A +/- -A


A Lei do Eterno Retorno foi mencionada pela primeira vez por Nietzsche, em seu livro Assim Falava Zaratustra. O livro conta as aventuras de um velho sábio chamado Zaratustra, que vai percorrendo lugares, ensinando lições através de seus aforismos. No meio de muita linguagem poética, vocabulário rebuscado e talvez uma leitura um tanto cansativa para leitores menos acostumados (ou que não gostam) ao estilo de Nietzsche, encontramos lições riquíssimas, que servem para a nossa vida pessoal, cotidiana e até para nossas questões existenciais.
A principal lição que eu encontrei nesse livro foi a Lei do Eterno Retorno. Ela é simples, mas suas conseqüências são muito complexas e um livro inteiro poderia ser escrito sobre o tema. Confira o que Zaratustra diz no livro:

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirassem tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este lugar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse.

Imagine como seria se assim que sua vida acabasse de alguma forma tudo acontecesse de novo... de novo...e de novo. Não sejamos precipitados a ponto de imaginarmos que essa seria uma experiência de horror e sofrimento. Pensando um pouco mais é fácil descobrirmos que uma vida bem aproveitada seria uma vida que valeria a pena ser vivida novamente.
Seguindo esse princípio nós podemos passar a nos perguntar se cada atitude que tomamos é algo que gostaríamos que fosse repetido infinitas vezes. Ou melhor, deveríamos refletir sobre isso antes de qualquer ação. Sem dúvida essa é uma lei filosófica poderosa que se levada a sério pode nos ajudar tanto quanto um princípio moral religioso. Nietzsche não foi o único a bolar regras morais para reger a nossa vida. Na Antiguidade, filósofos como Sócrates, Platão e Epicuro também refletiam sobre essas questões. Isso prova que a crença de que a religião foi o que trouxe a moralidade e a paz ao mundo, é uma grande falácia. As religiões ocidentais vêem as punições por nossos atos como obras de um ser divino que fica constantemente nos vigiando e avaliando. As religiões orientais se aproximam mais da lógica explorada por Nietzsche no sentido de que para ele nós somos os responsáveis pelas nossas próprias amarguras. Temos o poder de controlarmos nossa vida a ponto de vivermos uma vida que valha a pena ser repetida infinitas vezes, ou seja, somente nós somos responsáveis pelas nossas atitudes e pelas conseqüências delas. Em todo o contexto religioso oriental percebemos isso, como por exemplo, no budismo, na lei do Karma, em que tudo que colhemos é conseqüência de sementes plantadas anteriormente (Lei da causa e efeito).
Portanto, acho que deveríamos viver focados em ajudar o próximo para construirmos um mundo melhor (seja através de uma profissão, seja através de atitudes para com pessoas próximas no cotidiano), estudar para compreender o mundo em que vivemos e as pessoas com quem convivemos, lutar pelo nosso aperfeiçoamento pessoal. Ainda que isso seja muito fácil na teoria, mas dificílimo na prática, devemos tentar. E finalmente, encerro com as palavras de Schopenhauer:

Nossa maior meta deve ser a boa saúde e a riqueza intelectual, que levam a uma fonte inesgotável de idéias, à independência e à vida moral.


Comentários (2)

Carregando... Logando...
  • Logado como
É meu amigo, existe mesmo esse fato, o de acharem meio que sacal a forma como Nietzsche passa(va) para o papel a sua maneira de pensar, mas sem sobra de dúvidas, a Lei do Eterno Retorno é o que marca mais em Assim Falou Zaratustra. Bom blog, portanto, parabéns. Agora sou um seguidor.

Abraços, sempre!!!...
1 resposta · ativo 679 semanas atrás
Engraçado que, estudando mitologia, principalmente os textos de Joseph Campbell, percebi que muitos dos conceitos filosóficos de Nietzsche se relacionam de forma íntima com muitas noções mitológicas, como é o caso do amor fati e as noções dos deuses ou forças despersonificadas da natureza que são responsáveis tanto pelo bem tanto pelo mal, construção e destruição, e o fato de teros que nos conformar com isso e viver plenamente essa realidade...Enfim, sou fã de Nietzsche.

Valeu ae pelo elogio!
Abraço

Postar um novo comentário

Comments by