Você já teve um sonho, Neo, que parecia verdadeiro? E se você não conseguisse acordar desse sonho? Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real? – Morpheus (Matrix)----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Neo: Então estamos dentro de um programa de computador?
Morfeu: Acha mesmo difícil acreditar? Suas roupas são diferentes, os plugs do seu corpo sumiram, seu cabelo mudou, sua aparência é o que chamamos de .auto-imagem residual.. É a projeção mental do seu .eu. digital.
Neo: Isto não é real.
Morfeu: O que é .real.? Como você define o .real.? Se estiver falando do que consegue sentir, do que pode cheirar, provar, ver, então .real. são simplesmente sinais elétricos interpretados pelo cérebro. (...)
Não, este não é um post sobre Matrix. Com esse post, proponho a reflexão sobre um dos maiores e mais importantes filósofos que já existiram: René Descartes (1596-1650). Descartes é conhecido pela frase “penso, logo existo”, mas poucas pessoas compreendem o que está por trás desse aforismo.
Sua proposta principal consistia em determinar em que bases o conhecimento poderia realmente se firmar, o que realmente era real. Para isso, Descartes resolveu aplicar o método da dúvida, que consistia, como o nome já diz, em duvidar de absolutamente tudo que era tido como certo até então. Ele começou analisando as bases do nosso conhecimento, que é adquirido através dos nossos sentidos e nos dão todas as sensações que formam nossa percepção. Imaginem, diria Descartes, que um gênio maligno estivesse nos enganando e projetando estímulos que seriam captados pelos nossos sentidos e nos dariam a falsa impressão de estarmos experimentando o mundo exterior. Não quer dizer que Descartes acreditasse que isso era é um fato, mas o que ele queria mostrar era que só o fato de termos como duvidar da suposta realidade de o que nossos sentidos estão nos revelando, já evidenciava a fragilidade de nosso conhecimento. Com a problematização dos nossos próprios sentidos, que eram a base para qualquer outro tipo de saber vindouro, Descartes colocava em dúvida todo o resto, automaticamente.
Mas e nós mesmos? Será que podemos duvidar da nossa própria existência? Na medida em que colocamo-la em dúvida, nós pensamos. O próprio ato de pensar que poderíamos não existir realmente, já confere à nossa mente um status de realidade pois se ela não existisse, não pensaríamos nem nessa questão, de fato. Portanto, a dúvida da nossa existência funciona como uma confirmação de que temos que existir. Mas o que seria esse “nós”?
Descartes (1596 - 1650) |
Isaac Newton - deísta |
A essa altura acho que você deve ter reparado que os trechos de Matrix, lá em cima, cabem bem nas reflexões cartesianas. Isso é uma amostra de como as idéias desse filósofo continuam vivas até hoje, influenciando nossa vida diária, nossas fontes de entretenimento, senso comum e questões pessoais. A grande sacada de Matrix foi a exposição da suposição do gênio maligno de Descartes, mas retratando-o de uma maneira bem pós-moderna, ou seja, dessa vez, o grande vilão, aquele que nos engana e que coloca um mundo artificial na nossa frente para enganar nossos sentidos, é a tecnologia.
Gênio Maligno = I.A. |
*Na verdade, Descartes foi quem inaugurou a dualidade corpo X alma na Modernidade, resgatando conceitos já existentes desde a Antiguidade Clássica (Grécia) e até mesmo na Índia.
Fontes:
2 comentários:
"Tomei a decisão de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos."
Precisei começar esse comentário com a retro mencionada citação para você entender como foi bom para mim ler o seu post.
Hoje seria um dia como outro qualquer. Acordei cedo, li um pouco, vi um episódio de uma das minhas séries, fui trabalhar e com isso passei um dia ordinário, comum.
Mas como diria nosso querido Forrest: " a vida é como uma caixa de bombons". E é mesmo! Hoje, pequenas coisas me fizeram encontrar algo que eu havia perdido ao longo desse ano, e uma dessas pequenas, mas valiosas coisas foi o seu blog.
Você não só conseguiu de maneira simples e resumida "explicar" o pensamento de um dos maiores filósofos que o mundo já conheceu, na minha opinião, como você conseguiu expor a verdadeira razão de ser de um dos melhores filmes de todos os tempos, que infelizmente apenas fez sucesso, entre a maior parte da população, pelos efeitos especiais e cenas de luta que possui.
Acredito sim, que a dúvida deve ser o início de qualquer "crença", na falta de uma palavra melhor. E graças a este renomado e brilhante filósofo, a dúvida foi introduzida como elemento primordial para investigação filosófica e científica, desde aquela época até hoje...
O filme Matrix é uma bela viagem ao mundo da reflexão filosófica, é uma das coisas que após você assistir você inevitavelmente pensa: " e se..." Me sinto feliz por ter entendido tão preciosa mensagem e fico à vontade em dizer que seu blog hoje me causou o mesmo efeito.
Parabéns pela escolha do tema e pela forma de abordagem. A única coisa que não gostei no seu post foi o fato de eu concordar com tudo o que você escreveu e não poder iniciar aqui uma pequena discussão filosófica. rs
Fico muito feliz por meu blog ter causado um efeito assim tão positivo em alguém que tanto admiro e acho especial! :)
E sim! Matrix é uma fonte quase inesgotável de reflexões filosóficas, paralelos religiosos e referências a diversas obras religiosas e não-religiosas. Sem dúvida quem ver esse filme sem prestar atenção nesses detalhes, estará vendo somente um filme de ação viajante e espetacular para nossos olhos. Mas a verdadeira pérola desse filme é justamente trazer para o cenário moderno muitas das discussões milenares e seculares que atormentam as cabeças de filósofos e leigos.
A discussão filosófica se tornou irrelevante considerando o seu testemunho da interferência de meu post em sua vida! rs
Obrigado, my gift!!
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