domingo, 12 de junho de 2011

A Preferência Pelo Lado Direito

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Algo notável é a preferência universal pela utilização do lado direito. Geralmente nós pensamos nessa diferença em termos de escrita, esporte (como chutar ou lançar uma bola); mas essa assimetria se espalha por mais esferas do cotidiano e nem nos damos conta disso. Alguns pesquisadores tentam explicar o porquê dessa diferença. 


Algo que todos fazem, farão, ou fizeram algum dia, é beijar. Atividades rotineiras e comuns como essa dificilmente são analisadas em seus detalhes pela maioria das pessoas. O psicólogo Onu Güntürkun, da Universidade Ruhr, de Bochum, Alemanha, com certeza não está incluído nesse grupo de pessoas comuns. Ele estudou recentemente o modo como casais se beijam, ou melhor, para qual lado eles viram mais vezes a cabeça antes de realmente engatarem num beijo. Para isso, observou 124 casais em lugares públicos e concluiu que as cabeças se viram o dobro de vezes para a direita do que para esquerda. A explicação seria que esse é um resultado de processos que ocorrem no final da gestação e primeira infância. Essa assimetria ocorre em decorrência da lateralização de funções cerebrais da fala e a percepção espacial. Mas a educação e cultura também tem sua influência. Estudos mostram que 80% das mães, sejam destras ou canhotas, posicionam os filhos no colo com a cabeça virada para o lado esquerdo de seus corpos, o que faz com que o bebê tenha que virar a cabeça para a direita para mamar ou para se aconchegar. Assim, aprendemos desde bem cedo a associar o lado direito com calor, segurança e carinho. 


Indo nessa onda, alguns cientistas propuseram que quem beija com a cabeça virada para o lado esquerdo pode estar mostrando menos afeto do que as que viram para o outro lado. Ma um estudo de 2006, realizado pelo naturalista Julian Greenwood e seus colaboradores da Stranmillis University College, em Belfast, Irlanda do Norte, contrapõe essa ideia. Foi realizado um experimento em que os 240 estudantes de graduação que se voluntariaram, teriam que beijar uma boneca. Foi observado que 77% dos graduandos beijaram a boneca inclinando a cabeça para o lado direito, quantidade próxima a dos casais observados em Belfast, 80%.


Cabeça virada p/ lado esquerdo
A conclusão óbvia a que chegamos é que a nossa preferência pelo lado direito, pelo menos com relação ao beijo, não passa de uma facilidade motora que adquirimos ainda na infância por causa de fatores biológicos e culturais, sem que haja nenhum vínculo emocional ligado a essa escolha. Mas nesse caso, algumas perguntas poderiam ser formuladas e até servirem de tema para outra pesquisa aprofundando o caso. Se nós adquirimos essa assimetria graças a lateralização cerebral de certos aspectos cognitivos e de fatores culturais, como o lado em que as mães colocam seus filhos no colo, então o que determinaria o fato de as mães preferirem colocá-los com a cabeça virada para o lado esquerdo? Certamente haveria algo determinando essa escolha porque é justamente essa preferência materna que produz um dos determinantes da assimetria de seus filhos, que é um padrão mundial. Qual a participação especifica da biologia e a cultura nesse caso? 


Fontes:


WALTER, Chip; Revista Mente & Cérebro; A Ciência da Sedução; Magia do Beijo; Inclinação à direita (quadro); edição especial nº 25; 2010.


Elbert T, Pantev C, Wienbruch C, Rockstroh B, Taub E (1995) Increased cortical representation of the fingers of the left hand in string players. Science 270, 305-307.


Lorin's Left-Handedness Site (http://duke.usask.ca/˜elias/left)




Adult persistence of head-turning asymetry. Onur Güntürkün, em Nature, vol. 421, 13 de fevereiro de 2003.


Sex differences in romantic kissing among college students: an evolucionary perspective. Gordon G. Galup, Jr., Susan M. Hughes e Marissa A. Harrison, em Evolutionary Psychology, vol. 5, nº3, págs. 612-631, 2007.