Em pleno ano
de várias estréias de filmes de super-heróis nos cinemas – como O Espetacular Homem Aranha, que chega hoje as telonas – é bom lembrarmos que suas histórias
são mais do que crônicas de ação e aventura. Inicialmente, Stan Lee foi quem
introduziu este componente a mais: os questionamentos morais a cerca de o que é
um super-herói e o que ele deveria fazer, e desde então essa maneira de fazer
quadrinhos nunca mais foi abandonada.
Analisando a
coisa por esse lado, analisemos o nosso herói aracnídeo. Peter é um adolescente
quase chegando à vida adulta, um nerd incompreendido, odiado pelas garotas e
humilhado pelos malandros do colégio,
além de ter perdido os pais muito novo. Num mundo real, o que aconteceria se
ele adquirisse as habilidades sobre-humanas do Homem Aranha? Talvez, usaria
isso em benefício próprio, vingando-se daqueles um dia fizeram pouco dele e,
depois, usando-os em favor de si mesmo para ganhar popularidade ou até
conseguir algum dinheiro.
Esse tipo de
visão faz parte da nossa intuição há milênios, tanto é que aparece em A República, livro escrito pelo filósofo
Platão, que é uma compilação dos dizeres e diálogos de seu mestre, Sócrates.
O anel de Giges
No livro,
Sócrates diz para seu fiel escudeiro Glauco [que só consegue ser mais side kick do que o Robin], que aquele
que não possui riquezas materiais e prestígio, mas ainda assim segue o caminho
da justiça, é mais feliz do que aquele que desfruta de toda materialidade e
fama mas não segue o caminho da retidão moral.

O que essa
historinha nos revela? Como alegara Glauco, reflete a intuição, mostrando que o
poder corrompe o homem, que qualquer um que tenha meios para passar por cima
dos outros e obter benefícios para si, tornará isso realidade. Ou, nas palavras
de Abraham Lincoln:
"Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.”
O Bem, o Mal e a Justiça
Para refutar esse
argumento, segundo Platão, Sócrates invoca a crença de que o Bem e o Mal são
coisas que fazem parte da realidade, não são só produtos da mente humana. É como se algo nos dissesse o que é o que, como se intuitivamente
fossemos guiados para o Bem. Por esse motivo, mesmo que o indivíduo sinta
grande prazer em seus atos injustos, em algum momento ele vai perceber o vão
caminho que percorreu.
Não posso
deixar de notar que a história de Giges tem muita semelhança com a história
contada séculos mais tarde por Tolkien em O Senhor dos Anéis. A diferença é que
nessa história, os corajosos hobbits
escolhem não usar o anel para fins escusos, escolhendo seguir - passando por tentações
ao longo do percurso – a justiça.
Aristóteles
tinha uma opinião um pouco diferente. O filósofo negava a existência
individualizada e independente do Bem, substituindo essa noção por um forte
senso de teleologia, em que o Bem seria nada mais do que cada criatura chegar à
excelência naquilo que elas podem fazer e ser. Assim, um cavalo deve ser forte
e veloz, um leão, feroz, ágil e orgulhoso. O homem, portanto, deve atingir o
ápice em suas potencialidades também, e como foi Aristóteles que primeiro (pelo
menos no Ocidente) categorizou o homem como um animal que, diferente de todos
os outros, era racional, nada mais do que justo que ele defendesse que devemos
desenvolver ao máximo nossa razão. Nesta lista, também estavam nossas
capacidades sociais e políticas.

Desse modo,
podemos inferir que, provavelmente Sócrates está certo ao dizer que aquele que
servir à justiça será mais feliz do que aquele que não o fizer. Esse é o caso
de Parker e de todos aqueles que em algum momento agem de forma heróica.
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Fonte:
abner · 664 semanas atrás
Felipe C Novaes 57p · 664 semanas atrás
Julia · 663 semanas atrás
Felipe C Novaes 57p · 663 semanas atrás
Julia · 662 semanas atrás
Mas não é qualquer um que mesmo com essas circunstancias decide ser um agente da justiça, é preciso já ter uma tendencia a bondade antes de tudo.
"When an individual acquires great power, the use or misuse of that power is everything. Will it be used for the greater good? Or will it be used for personal or for destructive ends?" Charles Xavier.
Felipe C Novaes 57p · 662 semanas atrás
Aliás, isso explica o motivo pelo qual muitos vilões passam pelos mesmos traumas e acabam se bandeando para o lado vilanesco da vida, né rs.
O Coringa, por exemplo, tem uma origem cheia de traumas, mas ele enlouqueceu e se convenceu de que o mundo é um caos e que ser bom ou ruim não importa, o que importa é seguir esse caos e tal.
O Magneto também é um caso clássico. Ele teve uma infância dura e desenvolveu um sentimento de vingança inabalável contra os humanos e também a crença numa guerra, em que ele devia, claro, ficar do lado dos mutantes. Ele, se compararmos com o Charles, tem uma visão muito pessimista, e não sei até que ponto realista. O Charles escolheu um ladoque não necessariamente está defendendo a realidade, mas está tentando mudar essa realidade, ou seja, promovendo a paz entre os dois lados, quando o mais provável é o surgimento da guerra mesmo. Na vida a gente faz escolhas desse tipo toda hora. O que vale mais a pena, lutar pela modificação de uma situação provável e torna-la positiva ou simplesmente seguir a maré e lutar pra sobreviver a todo custo?
Julia · 662 semanas atrás
O Homem aranha pelo menos foi educado e com amor, não teve confortos e sofreu, digamos, "bullying", mas ele tinha um amigo ou outro, não acredito que ele viraria um vilão. Vamos para um lado pessoal, na situação do homem-aranha, qual seria sua postura ?
Felipe C Novaes 57p · 662 semanas atrás
No caso do Charles e do Eric acho que vale o mesmo.
Sobre a minha posição nisso...bom...Acho que posso pensar essa situação, para tratá-la mais realisticamente, nas artes marciais. Eu luto aikido e karate, certamente tenho alguma vantagem no combate corpo a corpo com alguém que não saiba nenhuma técnica. Mas a pergunta é: o que eu devo fazer com minhas habilidades? Sair por aí exibindoás - ou melhor ainda, procurando motivos e desculpas para sair por aí porrando todo mundo igual os famosos "jiujiteiros"? Acho que a máxima do tio Ben aí é universal: grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades...tanto para os físicos quanto para os abstratos.
Acho que eu tenderia a agir mais altruisticamente mesmo...claro que, protegendo ao máximo minha integridade física, já que lutar não me livra de levar uma bala rs.
Julia · 662 semanas atrás
Como disse o proprio Christian Bale: ˜O Batman é o heroi que mais tende a ser vilão.". É bem complicado comparar o batman com o Magneto. Eric viveu em guerra e usou os poderes que ele ganhou para seguir o que ele acreditava, em alguns pontos ele até esta certo, apenas sua conduta e seus objetivos estao errados. Já o batman até que teve um infancia, com certo conforto, e ele usou desses recursos para se vingar da injustiça... É claro que isso não veio do nada, tem haver com a relaçao que ele teve com seus pais e tal...
Sinto dizer mas voce não é o batman hahaha Tipo, o batman tinha muitos recursos, alem da luta ele tinha armaduras e carros. Sim, ele que decidiu investir nisso, e nao sao todos as pessoas ricas que usam seu dinheiro para salvar o dia, mas como ele teve esses trauma de vivenciar a injustiça tao cedo + herança dos seus pais (nao me refiro ao dinheiro) fez ele se dedicar a isso. Trazer o batman pra realidade é bem complicado por ele ser muito possivel... Não vai ser tão cedo que vamos ver o Eike batista pulando de telhados por ai e salvando o dia. O Batman não é um cara rico qualquer, ele é o cara rico com um sentimento de justiça instalado já.
Mas por exemplo, se eu fosse picada por uma aranha radiativa eu provavelmente usaria para o bem se eu tivesse a habilidade necessaria. Eu não sei desenvolver um lançador de teias então estou em desvantagem... Mas tipo, se eu tivesse na rua e visse um assalto dava pra eu fazer algo com minha agilidade de aranha e pans... Mas uma coisa é voce ganhar os poderes do nada, a outra é vc ter os recursos para se tornar um super heroi e realmente investir nisso!
PS: Foi mal pelos erros de portugues, to num teclado estrangeiro e ta complicado pra achar assentos e acostumar com o posicionamento das teclas, mas da pra entender. acho que fui um pouco repetitiva mas ok .
Felipe C Novaes 57p · 662 semanas atrás
haha Exatamente. E eu acho que é exatamente o fato de o Batman ser rico que impede ele, provavelmente, de existir de fato no mundo real. A grande maioria das pessoas que se mobiliza para algo é formada por aquelas que não tem recursos suficientes pra poder conviver pacificamente ignorando o que está a sua volta. É como a história do Buda. Sidharta Gautama era um príncipe envolto por riqueza, luxo e prazer3es, sem nunca ter tido uma real experiência com o sofrimento humano (velhice, doença e morte). Tudo que ele via era o prazer. Quando, um dia, acidentalmente ele vislumbrou essa realidade, nunca mais conseguiu ver sua riqueza material da mesma forma. O sofrimento era uma realidade para todos e ele precisava arrumar um jeito de acabar com o sofrimento.
Veja, sem a experiência real do sofrimento, ele nunca teria se mobilizado, abdicado de tudo e lutado em nome dele e de todos os outros. De certa forma, foi o que o Batman fez: apesar de ser rico pacas ele não desfruta verdadeiramente dessa riqueza...ele só usa o que é conveniente pra manter sua vida de vigilante mascarado.
No mundo real, ao contrário dessas histórias, vemos que dificilmente um ricaço se preocupa em realmente ajudar mais visceralmente aqueles que precisam. No máximo fazem doações e tal (o que já é grande coisa, claro). Por isso nunca veremos o Eike Batista aparecendo com uma fantasia ao ser chamado por uma versão do bat-sinal, o Eike-sinal. rs
Talvez um milionário agisse mais como o |Tony Stark antes de ser um Vingador, ou seja, o cara meio que só se intrometia em questões relacionadas à vida e à empresa dele...não eram grandes missões em nome dos fracos e oprimidos, mas de salvar seu próprio traseiro. hahaha Tanto é que o cara é o herói mais narcisista e fanfarrão dos quadrinhos