Os leitores mais assíduos aqui já devem estar acostumados às
minhas reclamações sobre o quanto as Ciências Humanas (principalmente o ramo
pós-medernista) me decepcionaram, se comparar o que pensava delas antes da
faculdade e o que passei a pensar depois. Não é raro ver que na verdade não há
uma busca realmente motivada por encontrar a verdade (ainda que nenhuma ciência consiga de fato encontrá-la, mas sim criar
modelos mais ou menos eficientes para explicar fenômenos; modelos estes que vão
sendo aperfeiçoados com o tempo e mais pesquisas), mas sim pela moralização
de determinados conhecimentos.
Uma das estratégias que vejo com frequência tanto em discussões online quanto as de sala de aula, é dizer que a ciência – se referindo, claro, principalmente à física e biologia – não avança, ela não amplia seus conhecimentos e nem descobre coisas, afinal, suas teorias não são fixas, mudam frequentemente, mostrando que o que foi verdade numa época não o é mais. É o que frequententemente é chamado passionalmente de “descontrução”. Veja um trecho sobre uma crítica a essa postura desconstrucionista (leia na íntegra):
"O Desconstrucionismo é o método através do qual se retira o significado de um texto para se colocar a seguir o sentido que se pretende para esse texto. Este método é aplicado não só em textos, mas também na retórica política e ideológica em geral.A desconstrução de um texto (ou de uma realidade histórica) permite que se elimine o seu significado, substituindo-o por aquilo que se pretende.Por exemplo, a análise desconstrucionista da Bíblia pode levar um marxista cultural a inferir que se trata de um livro dedicado à superioridade de uma raça e de um sexo sobre o outro sexo.A análise desconstrucionista das obras de Shakespeare, por parte de um marxista cultural, pode concluir que se tratam de obras misóginas que defendem a supressão da mulher.Ou a análise descontrucionista dos Lusíadas de Luís Vaz de Camões, levaria à conclusão de que se trata de uma obra colonialista, machista e imperialista."
Por que atacar as ciências da natureza?
Simples: há uma constante luta de alguns estudiosos das
humanidades para distinguir a ciência de suas áreas e a ciência das outras,
mais passíveis de formalização matemática, previsibilidade e etc. É como se as
críticas metodológicas sofridas pelas Ciências Humanas se tornassem mais amenas
diante do argumento de que a ciência tradicional, com toda a sua empáfia, não é
mais eficiente que as outras áreas em encontrar as “verdades”.
Nessa linha, já ouvi muito esta defesa: “Ora, veja, no passado achavam que a Terra era plana, hoje, sabe-se que não é, mais tarde isso pode mudar completamente também! Da mesma forma, o Sol era o centro do Universo, hoje, sabemos que nem mesmo a nossa galáxia é o centro do universo...mas, espere! Mais tarde podemos descobrir que estávamos errados! Nunca se sabe!”
Asimov sempre genial, salvando a ciência dos incautos
Por esses dias esbarrei com um texto
de Isaac Asimov. Ele argumentava contra uma carta enviada por um professor de literatura
inglesa, em que o homem dava um esporro no autor, dizendo que ele estava muito errado em dizer que a ciência atualmente
estava revelando muito sobre o funcionamento do universo e etc. Na verdade,
dizia o professor, o conhecimento atual pode mudar drasticamente amanhã e
passarmos a professar o “fato” de que a Terra é, surpreendentemente,
losangular.
No entanto, estudiosos foram aos pouco realizando
experiências e pensando sobre elas até concluir que não era um astro plano
coisa nenhuma. Mas, ora, isso foi sim uma mudança gradual, não foi um
rompimento súbito. Asimov mostra que
The curvature of such a sphere is about 0.000126 per mile, a quantity very close to 0 per mile, as you can see, and one not easily measured by the techniques at the disposal of the ancients. The tiny difference between 0 and 0.000126 accounts for the fact that it took so long to pass from the flat earth to the spherical earth.
Mind you, even a tiny difference, such as that between 0 and 0.000126, can be extremely important. That difference mounts up. The earth cannot be mapped over large areas with any accuracy at all if the difference isn't taken into account and if the earth isn't considered a sphere rather than a flat surface. Long ocean voyages can't be undertaken with any reasonable way of locating one's own position in the ocean unless the earth is considered spherical rather than flat.
Ou seja, sob um certo ângulo, a conclusão dos povos antigos
fazia muito sentido. A curvatura do nosso planeta é muitíssimo próxima de zero,
que é o ângulo da curvatura de uma reta, de algo plano.