Esse é mais um dos posts em que me indigno com a capacidade
que a Rede Globo tem de propagar ideias pseudocientíficas. O veículo mais comum
é as novelas. Tudo bem, muitas vezes elas só retratam o que já está transitando
na realidade, na sociedade. Todavia, a pergunta é: por que eles NUNCA dão voz a
ideias científicas que, afinal, também fazem parte da sociedade? É claro que um
viés existe aí.
Essa semana (última de fevereiro) vi duas manifestações no
facebook da neurocientista SuzanaHerculano, que pesquisa e ensina na UFRJ. Na primeira, foi um trecho emvídeo da entrevista dada no programa da
Fátima Bernardes, que passa pela manhã. E nos um minuto e pouco de filmagem
mostravam a cientista explicando que não existe essa coisa de energias
relacionadas ao pensamento positivo, que atraiam magicamente o que desejamos.
Ela ainda ressalta que acha esse tipo de pensamento uma coisa “vil”, pois nos
estimula a não agir para conseguir o que queremos, já que pensar é suficiente.
A segunda manifestação no facebook foi sobre uma entrevista que passou no
programa da Ana Maria Braga – que bate recorde em chamar astrólogos, tarólogos
e etc -, em que um indivíduo falava sobre a fisiognomia, uma área que tenta
achar correlações entre personalidade e características faciais.
Para variar,
falando da Lei da Atração
Não é só a
Globo que me impressiona com sua insistência com a pseudociência, mas também as
pessoas que compram esses discursos como se não tivessem um filtro crítico,
acreditando em qualquer baboseira. Parece que quanto mais impreciso, inclusive,
mais fácil de enfiar goela abaixo.
Logo que apareceu na minha linha do tempo fui comentar no
post da Suzana Herculano, e para minha surpresa – já que nas conversas no
perfil dela sempre aparecem alunos e profissionais da melhor qualidade – tinha
uma meia dúzia ou menos justificando ou tentando explicar “a coerência” de
pensamentos genéricos como o de O Segredo, Lei da Atração e obras de auto-ajuda
do tipo.
Previsivelmente, essas pessoas se valiam na física quântica
para tal. “Ah, mas a energia positiva é formada por prótons e a negativa, por
elétrons...tá vendo? A ciência comprova o mal olhado, o poder físico do
pensamento positivo!”. “Ah, existem diversos estudos mostrando que nossos
pensamentos interferem na realidade, vide o estudo de um mestrando na USP que
mostrou que existe sim cura por imposição de mãos!” (Leia Usos e Abusos da Física Quântica).
Esses são os argumentos mais comuns ultimamente. Sobre o estudo da USP, falo um pouco sobre ele em outro post. Sobre a física quântica,
o que tenho a dizer é o de sempre: essa é uma área da física que estuda as leis
físicas de corpos subatômicos (partículas), e essas leis, SÓ valem para esse
tipo de escala microscópica. Seus efeitos não se expandem para o mundo
macroscópico – pelo menos nenhuma evidência até hoje foi mostrada para apoiar
uma ideia contrária. Portanto, tirem da cabeça essa ideia de que física
quântica tem alguma coisa a ver com psicologia ou com comportamento humano.
Check mate,
minha crença foi salva
Outro
mecanismo de defesa contra a ciência é o da divisão de escopos. Explico: significa que se a ciência não
encontrar evidências de que algo acontece (ou evidências de que algo não
acontece – entendeu?), o sujeito alega que o método científico não é o único
modo de se comprovar algo. Isso aconteceu clara, porém sutilmente, na
entrevista da neurocientista. Ao dizer que não existem evidências de que o
pensamento positivo tenha a ver com energias que modifiquem a realidade, a
apresentadora interrompe complementando “...científica”, seguido por um risinho
de check mate, minha crença foi salva.
"...científico... :D" |
Só sei que é
assim...
Uma
observação que se faz necessária pela sua lastimosa realidade: sem dúvida, toda
a avalanche de auto-ajuda deturpadora da física que pegou carona no sucesso de
O Segredo e Quem Somos Nós conseguiu divulgar mais essa área do que todos os
interessantíssimos resultados e intenções do LHC e da prodigiosa descoberta do
Bóson de Higgs. O único problema é que a física divulgada por esses primeiros é
tão real quanto o cabelo de um careca.