sexta-feira, 26 de abril de 2013

O paradoxo da escolha na autonomia do paciente

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Autonomia do paciente: o que parece uma coisa boa,

mas na verdade é uma transferência de responsabilidade de decisão

entre quem sabe alguma coisa – o médico – para alguém que

não sabe nada, pode estar doente e não estar na

melhor condição de tomar decisões – o paciente.

 
O video do Barry Schwartz é para todo aquele que já se sentiu perdido ao chegar no MacDonald’s e ficou perdido na fila do caixa enquanto olhava para todos aqueles sanduíches, tentando decidir qual o melhor deles. Ou então, para aquele que vai numa loja de roupas comprar uma calça jeans e tem um choque quando chega e não encontra uma calça jeans, mas uma enorme variedade delas ao ponto de não sabermos qual a que melhor supre nossas necessidades – isso quando as tais necessidades na verdade em sua maior parte não são luxos criados pela sociedade capitalista.



Barry trata do dilema das sociedades modernas desenvolvidas, o dogma que nos faz aprender por osmose que um maior número de escolhas nos torna mais livres e mais felizes. Se fosse esse o caso, os países desenvolvidos seriam os de maior índice de felicidade. O que vemos, no entanto, é uma crescente taxa de suicídios


Esse assunto toca em muitos pontos fundamentais e profundos em nossa sociedade, como a questão da liberdade individual. Por exemplo, ao irmos em um médico, não temos obrigação de tomar a medicação que ele nos receita. O que ele mesmo nos dá é um belo dilema nos oferecendo os prós e contras de uma série de caminhos a ser tomados. Como podemos enxergar alguma coisa nesse ambiente bagunçado por vários caminhos teóricos embaralhados na nossa frente? Se ele é o especialista, como eu vou saber se é melhor tomar ou não o medicamento?



Eu achei especialmente intrigante uma frase do pesquisador, no video, essa que está no cabeçalho do texto. Ela sugere que a passagem da responsabilidade de se engajar no tratamento, conforme a indicação do médico, é uma questão de escolha do paciente, isto é, a responsabilidade é inteiramente dele. Não existe nada que o obrigue a tomar decisões a não ser sua própria consciência. O problema é que estamos jogando nas mãos de pessoas que sabem muito pouco, um dilema que só pode ser resolvido da melhor maneira por um médico, que é quem obviamente sabe mais sobre a condição de saúde do paciente. No entanto, nos cheira antiética a opinião de que o paciente não deve ter autonomia sobre seu “direito” de permanecer doente, digamos [por que diabos alguém iria optar por continuar doente mesmo?].



Recentemente, li um manifesto da Professora Suzana Herculano no facebook, acompanhado de dois links sobre a legalização da maconha e suas implicações negativas para a saúde (post no blog dela e na sua coluna da Folha). Ela alegava que sim, a maconha traz muitos prejuízos à nossa saúde, mas o Estado não deveria proibir seu uso, afinal, as pessoas devem escolher não usar o entorpecente e não serem obrigadas a tal. Eu sempre pensei no Estado como um regulador das relações humanas, protetor da economia e etc, portanto, faria parte de suas funções sim, proteger as pessoas de suas próprias más decisões – até porque não somos tão racionais quanto pensamos, na hora de tomar decisões.



Entretanto, confesso não estar muito seguro dessa opinião, mas ela pode estar certa. Mas mesmo assim, a questão que quero expor é que nem sempre ter a “liberdade de escolha” nos leva à felicidade, ou ao bem-estar, ou à tranquilidade. Muitas vezes isso nos produz angústia e aflição? Afinal, se temos 100 caminhos a serem seguidos, para cada um que escolhermos, poderemos pensar o quão melhor os outros 99 são. E, havemos de convir, ninguém consegue pesar honestamente os prós e contras de tantas opções.



Portanto, a questão é: no caso das drogas, por exemplo, o quão benéfico realmente é para o indivíduo ter a liberdade de escolha de continuar se drogando ou não? Entre as considerações a serem feitas, parece que quanto mais sabemos sobre o assunto, mais podemos defender um sim ou um não. Os relativistas arrumarão um jeito de dizer que a proibição de algumas drogas é arbitrária, que cada um tem seu conceito de felicidade e que a decisão deve caber ao indivíduo, sem ter pitacos “técnicos” e de autoridades. Por outro lado, sabemos que experimentar ao menos uma vez uma droga é um custo alto demais, porque depois da primeira, vem a segunda, a terceira e a quarta. Enfim...parece que toda essa pluralidade mais tem prejudicado, atrapalhado ou nos deixado no mesmo patamar de quando sabíamos pouco.


1 comentários:

ricardo rassan disse...

Sabe q mesmo muito bem argumentado, continuo achando q mesmo sendo uma má escolha, a questão da liberação de certas drogas, a liberdade deve ser a norma. No caso do especialista e do paciente eu concordo q a autoridade deve ser pontual e precisa na orientação do tratamento. Voltando às drogas, acho q a proibição não barra o uso, uma vez q na necessidade escapista as barreiras tornam-se agregados de emoção ao ato de se autodestruir, mas se há a liberdade e a possibilidade do uso às claras, problemas com compulsão do vício podem ser encaradas socialmente de maneira mais tranquila e não do modo recriminatório que atualmente acontece. Pq aí o sujeito tem dois problemas: o vício e a marginalização social do indivíduo já em sofrimento. Mas a opinião ainda não eh fechada, talvez não esteja tão seguro se isso realmente faça algum sentido prático.

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