domingo, 7 de fevereiro de 2010

Amar é amar o neutro.

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Quem costuma acompanhar os posts deste jovem blog, percebeu que hoje houveram dois posts. Esse aqui é de um escritor que eu conheço, que também se chama Felipe, que escreve para um jornal de Minas Gerais chamado O Grafite. Ele me passou alguns de seus textos e eu gostei , então resolvi postar aqui no blog e de quebra inaugurar uma nova seção, chamada “Reflexões”. Espero que todos curtam! Segue o texto:

O que é o amor? É o transcender o defeito do outro e seguir em frente?
Muitas pessoas confundem o “precisar” com amor. Precisar é quando precisamos do outro quando não temos a nós mesmos. Precisar: é querer que o outro ande por nós, por que já nos esquecemos como andar! Mas não nos esquecemos como andar por que queremos, pelo contrário, esquecemos como andar por que nos garantimos em encontrar alguém que ande por nós. Ande por nós, pois o “cansar” desgasta.

É... o amor virou clichê. E não é clichê adolescente, não! Muitas pessoas, ás vezes já de meia-idade, sofrem por “amor”. Todos um dia sofremos por amor. Mas justamente por que, nesse momento, é onde confundimos os sentimentos. Amor é não transcender ao outro. È viver com o outro. A Transcendência é dolorosa e é como esconder a poeira embaixo do tapete.

Estamos vivendo em uma “era de iludidos” por que o eu interior fica oculto com a vaidade da exibição de “um novo amor”, que não é amor coisa alguma.

O amor não se explica – talvez por isso eu esteja sendo tão prolixo – se sente. Mas o “precisar” se explica e “precisar” não é amar coisa alguma. “Precisar” é o não-amar a si próprio e correr para os braços de uma ilusão. È aí onde nós esquecemos de como andar. O amor não anda por nós: ele nos acompanha. O “precisar” que nos carrega, lentamente, até a ilusão-sem-volta.

Mas amor é, acima de tudo, o auto-amor. É, acima de tudo, o amor pela própria via-crucis. Pela própria via-crucis. Via-crucis, é um termo utilizado na literatura de Clarice Lispector. Como essa literatura é subjetiva, entendo “via-crucis” como o caminho da cruz. O caminho com a Cruz sobre os ombros.

O primeiro amor é: o amor a esse caminho e eu transeunte. Como podemos amar o outro, o outro com defeitos, qualidades e necessidades, se não amamos um pequeno espinho no caminho. O amor não tem regras, mas são necessárias algumas medidas: amar o Neutro. “Amar” ou “precisar” do vivo é facílimo. Mas amar o Neutro é a primeira coisa que devemos amar. O Neutro da vida, amar o Nada. Quando amamos o neutro – uma brisa de ar, a transcendência da existência, o silêncio da noite... – é aí que poderemos amar o vivo. O vivo não-Neutro. Quando pudermos reconhecer o Neutro em alguém, é aí que estamos amando. Quando pudermos reconhecer a pureza e a inocência neutra no outro, é aí que encontramos o amor.

Mas quando encontramos a malícia-do-vivo e do não-neutro nos olhos de alguém, é aí que precisamos. Pois o Ser Humano precisa dessa constante malícia e não-neutralidade: faz parte da Natureza Humana. È mais fácil amar a coisa viva – que vemos... que sentimos e compreendemos – é fácil.

Amar o neutro é difícil. É difícil amar algo insosso, sem forma nem consistência. Mas é esse o amor principal e verdadeiro. O amor por nós mesmos primeiro, pois – quem nunca pensou que atire a primeira pedra – quantas vezes já não nos imaginamos insossos, sem forma nem consistência? Quantas vezes já imaginamos o quão difícil é para nós, amar a nós mesmos? Uma coisa que deveria ser simples! Uma coisa que muitas pessoas que somente “existem” não param para pensar. Acham que comprando a melhor roupa, estão se amando. Acham que comprando a melhor maquiagem, estão se amando. Acham que ganhando a maior quantidade de dinheiro, estão se amando. Não, não! O amor não é isso! Amor é a compreensão de si próprio, o momento da Revelação. O Humano é só, mas o amor acompanha. E se não nos amarmos, quem nos amará?

Precisamos aprender a usar as pernas, pois a paralisia-que-não-é-paralisia é degradante e machuca sem necessidade. O neutro não pede para ser amado: a existência dele é em função de ser amado. E a nossa existência é em função de precisar? Não. É em função de nos encontrarmos e amarmos a nós mesmo acima de tudo. Amarmos nossa matéria. Antes de amar a coisa viva que pulsa e lateja.


2 comentários:

janaina disse...

lindo esse texto!adoreiiii

Anônimo disse...

É verdade, apesar de muitos não concordarem.
Adorei!

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