terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O que aprendi nas conversas sobre Silas Malafaia

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Fevereiro está sendo um mês movimentado na internet graças à entrevista do pastor Silas Malafaia no programa da jornalista Marília Grabriela. Não me supreendi com nada que aconteceu ali, até mesmo o óbvio descontrole da apresentadora foi esperado, afinal, é difícil encontrar alguém que sobreviva serenamente às táticas e falas do pastor. Além de seu tom de voz agressivo e fala ininterrupta que constantemente interrompe o interlocutor, seus argumentos em si são tão radicais que é complicado manter a imparcialidade. 


Enfim, esse assunto não é mais novidade e acho que seria chover no molhado escrever uma espécie de resenha crítica. Mas, como tive longas conversas em uns 2 ou 3 tópicos diferentes sobre essa entrevista, no facebook, acho dignos de nota os absurdos que eu ouvi não só dos defensores do Malafaia mas também dos cristãos que, apesar de não defendê-lo, defendem a Bíblia ou querem simplesmente serem compreensivos com o cara. 


Num desses tópicos, um colega que eu nem sabia que era protestante, vulgo evangélico, veio dizer que se olharmos por certo ângulo, Malafaia está certo. A linha argumentativa era: ele é evangélico, acredita piamente na Bíblia, o livro condena os homossexuais e diz que Deus criou homem e mulher e acabou; portanto, é compreensível que o pastor pense que os homossexuais são aberrações e que sejam fruto de uma mera escolha pessoal ao invés de ter uma orientação definida – ao menos parcialmente – geneticamente (Veja um post que já escrevi argumentando contra essa idéia de escolha sexual propagada pelo Silas Malafaia)


Sim, meu colega está certo, essa é a base do pensamento do Malafaia. Todavia, não compreendi o motivo pelo qual ele acha que a opinião do ilustre entrevistado de Marília Gabriela deve ser simplesmente aceita. Seria a mesma coisa eu falar assim: Olha, pessoal, o Hitler comandou a morte de milhões de minorias sociais, socialistas, eslavos e judeus porque ele se baseava na eugenia e em mitos como do homem ariano, descendente direto do Thor e tal. Então, por esse ângulo, ele está certo! Deixem-no em paz! 


Risível, não? Pois é! Outra linha de pensamento que ouvi muito foi: “Vivemos num país democrático, livre! Então, temos o direito de viver como bem entendemos e de falar o que bem queremos.” Bom, tirando meus conflitos com essa idéia de “ter direito a”, esse argumento segue o mesmo padrão do anterior, e isso é um problema. Vivemos num país democrático e livre, correto. Mas é justamente por isso que o Malafaia pode ter a pachorra de ir na televisão falar absurdos! E é justamente por vivermos sob esse prisma é que as discussões são possíveis – e desejáveis. O fato de a posição do pastor poder ser explicada ou de habitarmos um local que permita que sejamos livres ideologicamente não significa que o debate deve ser banido e nem que suas opiniões devam ser justificadas! Resumindo: não podemos sair por aí falando qualquer coisa e achando que não podemos ser contestados. 


Outro quadro com o qual muito me defrontei foi o da falácia naturalista. Essa falácia fala basicamente da alegação de que se algo é natural, é também correto moralmente. Percebe a diferença? Temos, por exemplo, o comportamento violento. TODAS as espécies possuem comportamento violento e também comportamentos altruístas. Cair na falácia naturalista seria afirmar que a violência é um comportamento correto porque outras espécies, além da humana, o possuem. O mesmo aconteceu com a homossexualidade. Eu disse que a homossexualidade não poderia ser fruto da escolha individual porque outras espécies também apresentam esse comportamento. Daí, falaram: “Ah, mas não é porque outras espécies fazem algo que deveremos fazer também! Se for assim, vamos matar uns aos outros porque os animais também o fazem!”. Não! O que quis dizer é que somente não podemos afirmar categoricamente que orientação sexual trata-se de escolha voluntária e que não existe base genética, afinal, outros animais – que não possuem o notável poder voluntário que nós – também possuem práticas homossexuais em seu repertório comportamental (Veja aqui o vídeo que Eli Vieira fez rebatendo essa visão do Silas).


Finalmente, abordarei brevemente um dos argumentos mais usados contra a Evolução, o de que ela é só uma teoria. No senso comum, usamos a palavra “teoria” para nos referir a alguma informação ou conjectura que não é fato, que não é comprovada sob nenhuma forma de julgamento. É mera suposição. No meio científico, teoria é a hipótese que foi corroborada por evidências. Por exemplo, você desconfia que seu cachorro esteja pegando seus chinelos, pois eles andam sumindo. Você supõe que o animal seja o agente nessa situação, mas não tem como comprovar, então, isso é uma hipótese. Se você um dia filmar ele fazendo isso, então existe uma evidência que apóia sua hipótese; pronto, você tem uma teoria, a de que seu cachorro está roubando seus chinelos. 


A maioria dos religiosos distorce esse raciocínio dizendo “Ah mas a evolução é só uma teoria” para que o ensino do criacionismo – que nem ciência é – seja visto com bons olhos. Mas eles parecem não saber – ou ignorar convenientemente – que até mesmo a gravidade faz parte de um corpo de idéias e evidências bem estudadas chamada teoria gravitacional. A causa dos terremotos é causa pelo movimento das placas tectônicas, mas essa explicação também é uma teoria, assim como o é, a idéia de que a Terra gira em torno do Sol. Você vê alguém questionando esses fatos? Eu também não. 


Existem muitos argumentos falaciosos a abordar, mas esses são os principais. Lendo isso você estará preparado para entender e até refutar os argumentos centrais dos religiosos que radicalizam sua crença e querem transformar religião em História e Ciência. Como eu disse no recente post em que eu descrevo meu ateísmo, os conflitos entre religião e ciência são causados por religiosos como Malafaia, que deixam de enxergar as belas metáfora sque as religiões nos fornecem e passam a tratá-la como uma enciclopédia.