terça-feira, 1 de março de 2011

Trote Universitário: Um Mal Que Precisa Acabar

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O blog Uma Visão de Mundo postou essa semana um ótimo texto sobre um assunto hoje polêmico entre os estudantes: trote. O texto abaixo disse tudo que eu sempre quis falar sobre sobre o assunto. Claro que frente a qualquer tentativa de argumentar contra o trote, a maior parte dos estudantes virão com o clássico argumento de que participa quem quer e além disso ele é bom porque favorece a interação e facilita a formação de amizades na universidade. Sim, isso não é mentira, mas o argumento se torna falacioso a partir do momento que consideramos que as próprias atividades acadêmicas fornecem um contexto propício para a formação de amizades e interação; e ainda conta com um plus que é a possibilidade de abordar temas complexos e muitas vezes exaustivos, de maneira descontraída e leve. 

O trote é um ritual de passagem, e como tal é perfeitamente comum, mas deixa de sê-lo no momento em que faz com que os estudantes sejam humilhados com tarefas sem cabimento e constrangedoras. E o mais bizarro é ver que a cultura do "tudo é festa" está sendo levada para dentro das universidades e incutindo a mentalidade de que somos obrigados a estarmos constantemente fazendo piadas, interagindo socialmente para propósitos desligados da atividade acadêmica e sempre indo em "festinhas". E o trote, infelizmente, virou mais um desses passaportes para a popularidade, de forma que quem não participa fica com medo de ser excluído pelos demais. Enfim...apreciem o texto à seguir.

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Edison Tsung Chi Hsueh, morto em trote na USP em 1999
(Edison Tsung Chi Hsueh, após ralar muito de estudar, passou no vestibular de medicina mais concorrido do país, mas foi morto em trote na USP em 1999)

Bruno é um estudante aplicado. Adora os animais e estuda diligentemente para se tornar um veterinário para poder ajuda-los. Vai prestar medicina veterinária. Após o resultado do vestibular, o alívio: ele entrou para a faculdade! Em alguns anos, se tornará o médico dos bichos! Mas durante os trotes que seus futuros colegas de profissão aplicam nele, ele entra em coma alcoólico por ter sido obrigado a ingerir bebidas. Decide abandonar a faculdade e dispara: “(...) fizeram a gente (calouros) entrar em uma lona na qual tinha excremento de animais e aves em decomposição. Pensei: se isso representa a medicina veterinária, perdi a vontade."

Todo ano, a vergonha se repete. Estudantes veteranos aplicam trotes nos novatos. Humilham. Agridem. Violam a liberdade. Cometem crimes sob a desculpa do “ah, é apenas um ritual pelo qual todos passam”. E parece que muitos aceitam. E para quê, afinal? Para nada, eu respondo.

Muitos dizem que é para “recepcionar”, para fazer amizade, para integração. Convenhamos, nunca vi uma amizade de verdade começar após alguém obrigar o outro a rolar em estrume ou raspar a cabeça. A inviolabilidade das pessoas é assegurada por lei. “Não me toque”, eu digo, e você deve respeitar sob pena de ser punido legalmente. Ninguém que entra na faculdade, aliás, é obrigado a fazer amigos. Alguém me perguntou se eu quero me “enturmar”? Desde quando fazer amigos virou obrigação? Pior, desde quando o nascimento da amizade foi desvirtuado a ponto de começar não com um gesto nobre e educado, mas com sofrimento e dor?

Alegar que o trote é “tradição”, sempre foi feito e por isso é “permitido” não convence. É o argumento dos tolos que só são capazes de repetir o que ouvem, sem refletir ou ponderar se tem sentido ou não o que matracam. A desculpa da tradição é uma tentativa covarde de legitimar atitudes que não se sustentam em seus argumentos. Humilhar outrem apenas porque ele irá entrar na sua faculdade (não é nem na sua turma ou classe!) não faz sentido. Nem mesmo o trote solidário se sustenta. A obrigação do aluno que entrou numa faculdade é manter frequência e notas dentro do que foi estipulado pela instituição até a obtenção do diploma. Fim.

O trote violento mostra a natureza doentia de pessoas que não poderiam exercer o que almejam. Como um futuro veterinário pode maltratar um ser vivo? Como um futuro médico pode sequer pensar em fazer algum tipo de mal a outro ser humano? Usarão a desculpa de brincadeira? Corrijam-me se estiver errado, mas... brincadeiras não são aquelas coisas que as pessoas fazem por vontade própria para se divertir? Qual a diversão de obrigar alguém a pedir dinheiro no semáforo ou chupar uma linguiça com leite em público como se fosse sexo oral? Se para estas pessoas humilhar os outros é uma brincadeira, teremos médicos, veterinários e outros profissionais temerosos!

Como confiar sua saúde a alguém que, um dia, enfiou álcool goela abaixo de um inocente até o coma alcoólico? Ou confiar em pessoas que lançaram ácido corrosivo (de brincadeira, claro, sempre de brincadeira) em pessoas inocentes? Este tipo de gente merece ir para a cadeia, não para o mercado de trabalho. E este aqui não é um discurso moralista. É uma dissertação sobre os direitos mais fundamentais de um ser humano, como a saúde e o bem estar. E ninguém tem o direito de violar o espaço do outro para diversão própria.

Como resolver a questão dos trotes? Com respeito. Os calouros que quiserem participar sabendo o que virá, ótimo. Temos aí uma festa. Contudo, quando for necessária coerção dos novatos, aí temos um crime. E todo crime deve ser punido exemplarmente. Trote não é brincadeira: é barbárie.

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